sábado, 4 de dezembro de 2010

Analgésicos para os Urubus do Cinema

Os Urubus cercam o agreste seco e sofrido do cineasta pernambucano Marcelo Gomes. Juntando-se a um caminhão de Aspirinas que circula aquelas terras no ambientado ano de 1942, o diretor levou ao Cinema um projeto lindíssimo em cima de um roteiro que foca uma amizade peculiar. Uma espécie de Chicó e João Grilo (O Auto da Compadecida – Ariano Suassuna) de mundos diferentes, mais sisudos, porém igualmente sinceros. Uma equilibrada mistura de drama e comédia que nos são apresentados com o uma simplicidade invejável.
Os dois amigos vividos no Longa-metragem Cinema, Aspirinas e Urubus são protagonizados pelo baiano João Miguel e pelo alemão Peter Ketnath. Dois seres de mundos inteiramente opostos que vêem suas histórias cruzadas no sertão brasileiro. Peter é Johann, um alemão driblando a guerra e se refugiando no nordeste brasileiro. João Miguel é Ranulpho, um paraibano que sonha em lagar sua terra natal atrás de novas oportunidades longe daquela “terra triste”. Tudo que os dois têm em comum é o desejo de mudar de vida, de construir novas realidades para suas histórias.
Ranulpho é o retrato de um sertanejo que sonha em viver uma vida distante do sofrimento do ‘sertão da fome’ e da seca. Suas esperanças se renovam quando Johann cruza seu caminho com um caminhão de Aspirinas, vendendo-as como um sonho numa tela de cinema – literalmente. Exibindo comerciais do produto numa sessão improvisada com lençóis, o alemão apresenta um mundo desconhecido ao povo dos lugares onde passa.
Marcelo Gomes levou as telas um filme que retrata o sertão nordestino de quase 70 anos atrás, mas que ainda contrasta muitas semelhanças com a terra do ‘bolsa família’ dos dias de hoje.
Estreante, mas com o talento de um veterano, o cineasta apresenta “o inusitado encontro de um alemão em busca de paz com um nordestino em busca de um sentido para a vida, somado ao encanto que o cinema proporciona mesmo num comercial de Aspirina. Rende momentos de pura poesia neo-realista” (Erika Liporaci, jornalista e colunista - 02/01/2005).
O filme nos carrega sem medo para o meio do nordeste. O longa, filmado com poucas câmeras, faz de cada uma delas o olho de quem passa por aquelas terras. Coloca-nos na altura dos olhos do povo que vê a seca destruindo suas vidas e em seus diálogos retrata o que é a realidade quando o mundo parece nos virar as costas.
Com uma fotografia deslumbrante – vencedora nesta categoria do prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 2005 – o que vemos é um céu amarelo e com terra branca e cinza. Marcelo Gomes explica os motivos da escolha nos pedindo uma reflexão: “Imagine a pupila dilatada de um alemão que chega ao sertão e um sertanejo fugindo da seca. Para os dois, aquele lugar precisa parecer um terreno hostil”. Daí esse sertão branco, sem um céu azul produzido pelo diretor de fotografia Mauro Pinheiro.
A história contada no filme é um relato do tio avô de Marcelo Gomes, mas o que chamou a atenção do cineasta e é o ponto chave da história é a universalidade de tudo. “São dois fugitivos procurando um caminho melhor para suas vidas. Tomar conta do seu destino. E nisso entra a dificuldade, o drama de ser errante” – diz ele. Durante o filme, os personagens vão se transformando a ponto do protagonista deixar seu posto para o coadjuvante do enredo no momento em que os dois personagens começam a entender suas diferenças na troca de olhares.
As boas interpretações de Peter Ketnath e João Miguel são acompanhadas a altura pelos outros atores, na grande maioria, formados por nordestinos que nem eram atores por profissão, mas sertanejos legítimos que ajudaram a transpor a realidade ao filme. Com vozes baixas e olhares cansados, esses coadjuvantes roubam a cena com a interpretação de um lugar refletido em suas íris.
No caminhão do alemão Johann, as músicas que ressoam as cenas são tiradas do acervo do museu de discos de vinil de Christiano Câmara, que já rendeu o curta-metragem ”Rua Escadinha 162”. O diretor musical Tomás Alves de Souza separou os hits de 1942 para compor sua ambientação.
Com a produção de Sara Silveira, Maria Ionescu e João Vieira Jr, o filme lançado em 2005 venceu diversos prêmios pelo mundo. Além de ser destaque no festival de Cannes, venceu o prêmio de Educação Nacional Francesa e foi uma das apostas brasileiras entre os pré-indicados ao Oscar de 2007.
Por conta do prêmio de Educação em Cannes, o filme é exibido até hoje para milhões de estudantes em várias partes do mundo, mas nunca foi um arrasa quarteirão nas telas do cinema, talvez devido a sua temática realista, que muitos podem achar uma ferida dolorida demais para ser vista, porém trata-se de uma obra que deve ser conferida pelo simples fato de ajudar o Brasil a dar a expressão 7º arte ao cinema.
Marcos Ferreira Silva

sábado, 20 de novembro de 2010

Mulher, chuva e mesa de bar

charge: Diogo - JT
Caro leitor, antes mesmo de começar esse texto eu peço desculpas a todos por tudo. Nesse momento você deve estar perguntando-se: Desculpas pelo que? – E eu respondo: Por todas as baixarias fulas que vou transcrever a seguir. Porém, gostaria de reforçar que não há motivo revolucionário ou educativo para eu escrever isso, mas eu não podia deixar passar esta verdade, qual é fundamentada em experiências verídicas, algumas vezes contraditórias.
Vamos lá, vocês hão de concordar que mulher é idêntica ao tempo, principalmente nessa época de Catrina e tantos outros fenômenos naturais com nomes femininos. Mas por que diabos batizaram com nomes de mulheres os últimos tufões, tornados e vendavais que assolam o mundo? Essa é uma resposta simples. Vamos exemplificar isso usando novamente o Catrina: Ele é inesperado. Chegando de surpresa, o leva para aonde quiser sem que você possa reagir. Tão impressionante que você não consegue nem tirar o olho. Tem um poder de destruição incalculável (quando notamos já se foi o dinheiro, liberdade e nos casos mais graves o sujeito termina na sarjeta, ou se preferir, pode considerar o endereço da rua da amargura, número zero à esquerda), e como se fosse planejado, você está sempre perto e sem querer acaba dentro de um (a).
Quando tratamos de fronteiras Brasil, é só pensar no clima da capital Paulicéia. Bem cedinho você acorda, olha para o céu, analisa as nuvens e diz: Ótimo, vai fazer um sol maravilhoso hoje! – aí quando você coloca os pés para fora de casa, e provavelmente depois de ter se distanciado ao menos alguns quilômetros do seu ponto inicial, começa a chover em proporções desastrosas. Então no dia seguinte você faz o mesmo ritual; acorda, olha o céu, mede milimetricamente cada nuvem, especificando tonalidade de cor, brilho, contraste e nitidez, e só depois diz: Gente, hoje vai chover! – Daí você sai correndo para dentro de casa pegando capa, blusa e se atrasa pro trabalho por ficar procurando aquele “bendito” guarda-chuva que sempre resolve desaparecer em momentos assim, como num passe de mágica. Preciosos minutos depois, você dá fim ao paradeiro do tal guarda-chuva, que para finalizar está com o botão de abrir travado e com uma ponta da armação quebrada para fora, dando ao seu velho companheiro de temporais aquela aparência de ferragem misturado com tapa-sol de mendigo. Depois de tudo, você finalmente sai de casa. Caminha longos passos e, ironicamente, no mesmo ponto que um dia antes você mais parecia um miojo cozido na geladeira, o sol aparece estonteante, o qual não dava o ar da graça desde a manhã do dia anterior.
Perceberam? A mulher é igualzinha, praticamente um sinônimo do tempo. Sobre a comparação com o Catrina não vejo necessidade de qualquer comentário. Mas pense no clima de São Paulo e a mulher, é bem singular, não é? Pelo menos 95% delas são assim.
Ótimo, mas e a mesa de bar, onde entra nessa história? Conseguimos provar qualquer estudo sobre esse assunto numa mesa de bar. Veja:
Elas são paradoxais, não sabem o querem de verdade durante o decorrer do dia, pois suas ousadias e sentimentos não são expostos na missa dominical (lá elas pedem perdão das noites de sexta e de sábado), mas sim quando estão sentadas numa mesa de bar, rodeadas de vodka e bohemia e muita boêmia a from Hell.
Ironicamente, a mulher é uma dama imensurável da hora que acorda até chegar à porta do bar. No interior do “boteco” (ou nas cabaninhas do lado de fora) elas se transformam. Bebem, fumam demasiadamente, chupam os pescoços dos amigos, etc. Nessas horas não há mais pudor, a palavra foi provisoriamente riscada do dicionário, com aprovação da Academia Brasileira de Letras e tudo mais.
Quando o homem chama o perigo pro seu lado, ele é um safado? Não. Hoje a humanidade abriu os olhos para enxergar que a culpa, na maioria das vezes, é da mulher, pois elas têm o poder. Quando beijam a amiga durante longos quarenta e cinco segundos, e ainda mordiscam o lábio da companheira como se não quisesse mais largar é covardia. Enquanto isso os idiotas taradamente admiram, sabendo que depois elas vão dizer que era só brincadeira, que o negócio delas é homem e ponto. Disso eu nunca duvido, mas qual o meu percentual de culpa se fora de controle eu acabar com a brincadeira e tirá-las de cena para concluirmos a tese, dizendo: Agora você vem comigo.
Ok, eu tenho um amigo que diz resistir a tudo isso, mas na verdade, disso eu duvido, do resto eu não duvido mais de nada.
Conheço um bar de rock aqui em São Paulo chamado manifesto bar, mas devido ao nome e a falência do ritmo, deveria ser um bar de mulheres.
Há tempos atrás, neste bar, uma colega, singela e recatada, qual respeito muito profissionalmente deixou-me boquiaberto. E sabem de quem é a culpa? Do bar, logicamente. Se não fosse aquela cerveja que desce redondo e é boa, ela não diria: “Vamos sair daqui, transarmos a noite inteira e depois dizermos que não nos lembramos de nada e culpamos a cerveja que nos alteram os ânimos”. – não somos responsáveis por nada depois do segundo gole.
Pois é, mesa de bar é chuva com hora marcada quando o assunto é mulher. Todo chopp depois do trabalho, ou no horário daquela aula enforcada é misticamente revelador. Não existe Happy Hour inocente.
Até as mais politicamente corretas soltam as asinhas na hora B (Hora do Bar). Falam o que pensam daquela chefe ‘’idiota’’, que até então você achava que elas se amavam, unha e carne. E relatam detalhadamente o que pensam daquele colega de trabalho que almoça com vocês todos os dias, que nas palavras delas é lindo de morrer, um tesão.  E você, inocente, achava até aquele instante que ela o odiava. Ela brinda o afastamento da chefe e maldiz ao profundo poço das trevas o nome da ‘’loira fútil’’ que namora o carinha da repartição (as loiras são sempre as mais odiadas. Só há uma dentre todas que será poupada, no caso é a loira que tem a palavra).
E vai ter sempre aquele momento que a bebida sobe a cabeça e elas vão abaixo, com o coração ferido e as emoções tortas impulsionadas pelo excesso de vinho. E elas choram. Prometem não beber nunca mais, nem beijar a amiga. Liga para o ex, qual ela sempre enfatiza não passar de um idiota completo. Encharcam nossa blusa de lágrimas, enquanto ela diz tudo àquilo que você não espera... na segunda não se lembrará de nada, ou irá fingir não lembrar.
Agora fica fácil entender os pais dessas moças e o motivo de eles tanto quererem manter esses Catrinas debaixo de suas asas, no máximo destruindo o quarto (sozinhas, pelo amor de Deus).
Lamentamos profundamente todas as conseqüências do álcool nessa vida boêmia.
Moças, eu espero vocês na sexta, faça chuva ou faça sol...
Marcos Ferreira Silva

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Fórmula 1 – Um campeonato em frases e comentários sórdidos

“Tivemos mais sorte que bom senso” - Red Bull sobre Vettel (Verdade)

“Realmente não esperava um resultado como esse, foi simplesmente enorme. No final, tivemos mais sorte do que bom senso. É bom desse jeito” - Dietrich Mateschitz, dono da Red Bull (Alma  do esporte. O cara que honrou a Fórmula 1 em 2010)
“Nunca fiquei tão feliz em ver uma Renault e uma Mercedes bem. Até torci durante o pitstop do Kubica” - Christian Horner, chefe da Red Bull (É lógico)
“Temos que tirar o chapéu para o Sebastian, ele fez um grande trabalho durante todo o ano e liderou o campeonato na última prova, na hora certa. Ele está completamente de parabéns pelo título mundial” - Mark Webber, piloto da Red Bull (Inimigo Mortal)
“Acho que a ficha vai cair apenas quando eu for dormir. Mas nós vamos passar a noite em claro depois do que aconteceu” - Sebastian Vettel, novo campeão mundial (Garoto Feliz)
“Estou muito feliz por ele porque somos amigos e este foi um ano muito difícil para ele” -
Michael Schumacher, heptacampeão (Gostamos, ou não, mas esse sabe do que está falando)
“Não foi uma temporada espetacular para nós, mas quero dar meus parabéns para a Red Bull e para o Sebastian, eles fizeram um trabalho fantástico durante o ano” - Lewis Hamilton, segundo colocado em Yas Marina (Tem talento e um título que era do Massa)
“Ele se protegeu como se estivesse disputando o título comigo na última volta da última prova do campeonato. Ele foi muito agressivo” - Fernando Alonso, vice-campeão mundial, sobre Vitaly Petrov (O sujeito que não ganhou porque não honrou o esporte – mas já é duas vezes campeão)
“Apenas fiz o meu trabalho. Se ele tivesse tentado a manobra, então eu não iria querer bater, mas ele não chegou a isso” - Vitaly Petrov, em resposta a Alonso (Ousado)
“Em um circuito fantástico como esse, é uma pena que a ultrapassagem seja tão difícil” – Felipe Massa, brasileiro da Ferrari, sobre a pista em Abu Dhabi (Só assistiu o campeonato)
“Agora não temos que discutir os motivos pelos quais tomamos essa decisão. Ganhamos ou perdemos 
como uma equipe” – Stefano Domenicali, chefe da Ferrari (E esperamos que tenham aprendido que jogo de equipe é o mesmo que ser Dig Vigarista)

“Felicito calorosamente Sebastian Vettel pelo título do Mundial. Na última prova, ele conteve o nervosismo e mostrou a classe de um verdadeiro campeão” - Angela Merkel, chanceler alemã (Espero que ela não queira ir ao vestuário dessa vez)
“Com confiança, talento e disciplina, ele tem feito sucesso logo em seus 
primeiros anos na Fórmula 1 e já está na história do esporte. A equipe nacional alemã o parabeniza efusivamente” – Joachim Löw, técnico da seleção da Alemanha de futebol (Fashion)

“Acho que chamei a atenção das pessoas que importam e decidem” – Bruno Senna, piloto da Hidivia (O nome arrepia, mas o carro assusta)
“Termino o ano com a sensação de missão cumprida: fiz o melhor que pude com o que eu tinha” – Lucas di Grassi, piloto da Virgin (Confio nesse sujeito)
Marcos Ferreira Silva - seleção e comentários

domingo, 14 de novembro de 2010

Amor em três pontos

Amor. Essa é uma palavra que está na moda há tanto tempo, mas parece que para alguns essa palavra já não faz tanto sentido assim. Algumas teorias falam que ninguém vive sem amor. Isso generaliza muito. Amor, amor, amor... Só que as teorias gostam de ficar um pouco à parte quando os amores doem, se acabam, morrem, ou se só alguém ama. Eis a razão do sofrer.
Os teóricos saem de cena, para não falarem besteira, ou entregam nas mãos dos poetas. Por mais natural que seja, não dá para politizar esse sentimento.
Como deixar os estudiosos tentar explicar o que se passa quando o amor irrita a saudade durante a noite? Quando os sonhos perturbam a sanidade da razão de deixar esquecer. Nenhum deles poderá explicar isso. Talvez os psicanalistas? Talvez Freud? Prefiro deixar Drummond me ensinar. Camões dilacerar suas palavras. Coríntios 13 me mostrar o caminho que Renato unificou fora às crenças.
Até o bom sensacionalista Lobo das canções sabe mais de amor que muitos estudiosos, Por tudo que For... por tudo que nunca entendemos...
Quando os nossos sonhos trazem a dor do ontem, ninguém vai poder nos virar com uma fórmula mágica e nos ensinar o que nunca aprenderemos. Aquilo que nunca esquecemos e nunca saberemos explicar. O que nos causa frio e interpela o corpo numa dor de não saber o que realmente passou... Por que é triste e eu não quero nem lembrar...
Marcos Ferreira Silva

domingo, 17 de outubro de 2010

Ser Titã em 2010

Os Titãs e seus quase 30 anos de banda passaram por várias transformações. No som do grupo passou o Ska, o romântico, o pesado, o protesto e tudo mais que se possa imaginar. Desde Sonífera Ilha a Vossa Excelência, os Titãs mostraram uma versatilidade sem igual. Há quem diga que eles já foram bons, que já foram Rock e hoje são apenas um nicho do mercado (quase falido) fonográfico. Essas acusações geradas pelos anos e pelo que o púbico presenciou nas saídas de Arnaldo Antunes, Nando Reis, Charles Gavin e pela triste morte de Marcelo Frommer.
Eu já estava quase convencido que pela metamorfose dos singles isso realmente acontecia até ver um Show da banda este ano na Virada Cultural de São Paulo. Embasbacado, vi milhares de pessoas pulando e gritando com Polícia e Bichos Escrotos e levando as mãos de um lado pro outro com a letra de Epitáfio na ponta da língua. Senhoras e senhores de linha e terno e novos e velhos roqueiros da ponta do coturno até a última ponta dos cumpridos cabelos - unidos pela força daquele som. Rock and Roll de verdade. Uma coisa inimaginável para senhores de cinqüenta anos ou mais.
A estável carreira desses ‘meninos’ em outras áreas como literatura, cinema e tv não os fazem pior quando se encontram, ao contrário, desperta a fúria do titã adormecido.
De presente um vídeo da banda no Domingão do Faustão no ano de 1993. Quando eles já eram maduros e criticados ao extremo pelo simples fato de ir num programa popular. Contudo, estavam tocando uma coisa chamada Titanomaquia – um dos maiores álbuns do Rock Nacional de todos os tempos.
Vocês ainda acham que eles vão acabar a qualquer momento por isso? Façam suas apostas.
Marcos Ferreira Silva

Para quem o tempo?

O tempo é uma coisa muito aleatória para as nossas mentes. Nunca saberemos como será a primeira hora do amanhã, mas sempre seremos dependentes do que foi ontem. Isso é simplesmente magnífico. 
Mas é triste quando os anos que se passaram fazem alguns acharem que estamos tratando de um defeito. Podemos resumir isso em burrice, plena, insana e desumana.
Uma história me tomou recentemente. Uma reflexão na prática. Realizadas por pessoas de bom senso para a vida. Em 2006, Selton Mello dirigiu Jorge Loredo, o eterno Zé Bonitinho, no curta-metragem “Quando o Tempo Cair”.
No mesmo ano, só que alguns meses antes, Selton o havia entrevistado no “Tarja Preta”, programa do Canal Brasil, e quis saber por que ele estava há tanto tempo - desde 1978 - sem fazer cinema. Resposta do Loredo: “porque não me convidam!”. (Trecho retirado da Coluna do Jornalista Flávio Ricco - http://televisao.uol.com.br/colunas/flavio-ricco/)
Inerte a isso, convido-os a ver essa real história de ficção.
Quando o Tempo Cair
Gênero: Ficção
Diretor Selton: Mello
Ano: 2006
Duração: 15 min
Cor: Colorido
Bitola: 35mm
País: Brasil
Marcos Ferreira Silva

domingo, 10 de outubro de 2010

Parabéns, John!


Fazer homenagens, definitivamente, não é comigo. Muitas vezes me faltam palavras para falar de alguns artistas que parecem nos entender mais do que nós mesmos. John era um desses raros seres.
Na minha infância, um padre Irlandês que vivia no Brasil transformou suas melodias em cantos para a 'quadrada' paróquia. Causando a fúria de todos os Padres e Bispos 'normais'.
Mas com seu sangue juvenil, já aos oitenta anos, usou a sensibilidade para dizer da forma mais simples possível o que era um bom sentimento para pessoas sedentas de inteligência e de vida a flor da pele. 
Essa foi à primeira vez que ouvi o nome de John Lennon. Desde então, quando penso em falar algo, me lembro que ele, com poucas palavras, falava a todos nós.
Por isso me calo e o ouço. Simplesmente assim.
Marcos Ferreira Silva

sábado, 9 de outubro de 2010

A Soberania PARATODOS

Os olhos azuis de Chico Buarque de Hollanda já estão no auge de seus 66 anos e ele continua travando duelos inteligentes com suas músicas que, hoje, são confundidas com hinos de um tempo que não se acaba, porque Chico está aí, como um bom vinho.
Quando iniciou sua carreira em 1964, com um show no Colégio Santa Cruz, cantando a música ‘Tem mais Samba’ feita para o espetáculo Balanço do Orfeu, Chico Buarque cantou no mesmo palco de outros grandes talentos da música que começavam a ganhar reconhecimento como Jorge Ben, Nara Leão e Elis Regina.
Quando compôs ‘A Banda’, em 1966, dividiu com a música ‘Disparada’ - de Théo de Barros e Geraldo Vandré - o primeiro lugar no II Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record. A canção se tornou sucesso imediato, sendo saudada com uma Crônica de ninguém menos que Carlos Drummond de Andrade. O compacto com a música vendeu mais de 100 mil cópias em uma semana.
Com o tempo, os sucessos foram se ampliando a ponto de ser conhecido pelo público como “a única unanimidade nacional” de acordo com a frase de Millôr Fernandes, que se tornaria seu futuro desafeto.
Paralelo ao sucesso de suas canções, Chico Buarque também dividiu tempo para concretizar carreira sólida também na Literatura e no Teatro. Escreveu os livros Fazenda Modelo, Chapeuzinho Amarelo, A Bordo Rui Barbosa, Estorvo (o primeiro romance), Benjamim, Budapeste e Leite derramado. No teatro, obras como Calabar, Gota d’água e Roda Viva – a primeira delas – rendeu-lhe grandes prêmios e o começo de problemas entre ele e a maior vilã de seu tempo; A repressão.
Em 1966, o artista tinha tido sua música ‘Tamandaré’ censurada sobre acusações de conter frases consideradas ofensivas ao patrono da Marinha, que na época estampava as notas de um cruzeiro. Mas Chico sentiu com maior intensidade o golpe em 1968, quando grupos anticomunistas invadiram o Teatro Galpão, em São Paulo, depredaram as instalações e agrediram os integrantes da montagem de Roda Viva. Depois da sequência dos fatos e da censura sobre outras canções, Chico Buarque se exila na Itália, onde dividiu moradia com o amigo Toquinho, e retorna ao Brasil somente em 1970.
Unindo experiência e histórias, Chico lança anos mais tarde, em 1993, o disco Paratodos, que possui a música homônima como carro-chefe do álbum. Na letra, ele faz sua pequena Biografia citando as origens de sua família e de inspiração musical no primeiro verso: O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano / Meu maestro soberano / Foi Antonio Brasileiro.
Chico Buarque cita Antonio Brasileiro se referindo ao maestro Tom Jobim como resultado natural de uma mescla regional de sua família.
Nos versos seguintes, o compositor atribui a Tom Jobim a inspiração para o seu trabalho e senso crítico.
Com muita leveza, Chico passeia por sua história repleta de alegrias, sucessos e dificuldades e traça de maneira bela uma espécie de ‘antídoto’ para a vida, fazendo uma homenagem a suas grandes inspirações e parceiros na música.
Recomenda contra fel e moléstia a tranqüilidade típica da Bahia de Dorival Caymmi até a agitação do paraibano Jackson do Pandeiro.
Com a calcada melodia em Ré maior, Chico de Hollanda continua a falar de sua vida: Vi cidades, vi dinheiro / Bandoleiros, vi hospícios / Moças feito passarinho / Avoando de edifícios / Fume Ari, cheire Vinícius / Beba Nelson Cavaquinho. Nesse trecho, ele faz uma referência às loucuras da vida e até do suicídio e volta apontar soluções como entorpecesse de Ari Barroso, Vinicius de Moraes e Nelson Cavaquinho.
Depois, ele aponta remédio para o preconceito usando Luiz Gonzaga e Pinxinguinha. E sua lista de homenageados vai crescendo com Noel Rosa, Cartola, Orestes Barbosa, João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil (os dois últimos seus amigos desde 1965).
Marcando presença na lista de soluções musicais de Chico Buarque, estão também Erasmo e Roberto Carlos, Jorge Ben, Hermeto Pascoal, Edu Lobo, Milton Nascimento, Nara Leão, Gal Costa, Maria Bethânia, Rita Lee (sobre esse nome há controvérsias, pois o jeito simples de falar somente Rita pode ser atribuída a jovem Maria Rita – filha de sua amiga Elis Regina) e Clara Nunes.
Quando a solução de boa música está pronta, Chico volta a relembrar suas origens e quem ele relata ser: Vou na estrada há muitos anos / Sou um artista brasileiro. E para quem acha que tudo se baseia numa convicta nostalgia, o poeta proclama: Evoé, jovens à vista.
O álbum de 12 faixas inclui canções guardadas até então como ‘Sobre Todas as Coisas’, feita para o balé O Grande Circo Místico, em 1982, composta com Edu Lobo e ‘Choro Bandido’ de 1985, fruto da mesma parceria.
Uma das características marcantes do disco é a sua capa – fruto de uma ideia de Chico que reuniu várias fotos de pessoas do cotidiano espalhadas nos dois lados do trabalho - para juntar as imagens ele colheu autorização com fotógrafos populares na feira nordestina de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio – no centro das imagens se destaca uma foto real de Chico Buarque sendo fichado na polícia em 1961 pelo roubo de um carro que usou para divertisse com amigos na noite paulistana. O resultado foi uma capa criativa e moderna, fazendo jus ao nome do disco.
O álbum teve uma bela produção de Luiz Cláudio Ramos e Vinicius França e direção artística Miguel Plopschi e ainda conta com a participação de grandes músicos, entre eles o maestro soberano Tom Jobim na música ‘Piano na Mangueira’ e Gal Costa em ‘Biscate’.
Paratodos é um daqueles discos que não podemos abrir mão de termos em casa, pois não é só um lindo trabalho, mas também marca as mudanças na vida de Chico Buarque em contraste vivido com a metamorfose do Brasil, refletidos em melodias bonitas e bem trabalhadas acompanhadas por letras nostálgicas necessárias para nós, como o próprio título diz.
Marcos Ferreira Silva

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um 22 de Setembro qualquer

Hoje o dia nasceu tímido. Sem maiores expectativas. Correndo rasteiro e sem graça. O sol de véspera de primavera plana com graça no ar. Quando cruzamos as ruas, podemos notar os rostos angustiados de uma quarta-feira com cara de segunda. Todos acostumados com a escravização moderna do homem. A rotina.
Os escritórios estão lotados de auxiliares e executivos submersos em cafés servidos em copinhos de plástico e xícaras de porcelana barata. As gravatas e os saltos sufocam as pessoas. Os carros atravessam a marginal a 80 quilômetros por hora. As crianças estão sentadas nas carteiras da escola entendendo física e química, mexendo em seus celulares, qual receberam precocemente no último aniversário. Desconhecem brincar de amarelinha.
Do outro lado, dentro de um sobrado, alguém limpa a casa ouvindo histórias na rádio AM. O locutor é seu único amigo desde que o amor foi embora. Perto dali, alguém exprime a vontade de estar sufocado em um terno, mas ao menos teria um emprego, um salário para sair da frente do televisor depois de mais uma noite de insônia.
Muitos quilômetros daquela vila, o garoto desce as dunas de areia e corre para o mar deserto, cortando uma leve ventania. A brisa corre longe e alivia o calor do rapaz no escritório que folga os sapatos debaixo da mesa. Enquanto o telefone toca incessantemente, a mesa ao lado está vazia e sua dona, despreocupada, contempla o céu sem nuvens daquele dia vinte e dois de setembro qualquer.
Marcos Ferreira Silva

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vinho de rosa

Na última sexta-feira, 10, São Paulo assistiu a gravação do DVD de um dos maiores nomes da música Católica no Brasil, o grupo Rosa de Saron. Consolidado no Rock, a banda de Campinas leva na bagagem 22 anos de história e um modo de falar das relações humanas e de Deus como nenhuma outra.
O HSBC HALL ficou pequeno para a empolgação das mais de 3.500 pessoas que lotaram a casa. “Eles são demais, são abençoados, mesmo” – dizia uma menina empolgada durante o Show.
Os jovens católicos ou de algum seguimento religioso são maioria no meio dos fãs do grupo, mas não são apenas esses os seus ouvintes. Cada vez mais pessoas conhecem e admiram os roqueiros campinenses. Com suas músicas cheias de mensagens de amor e esperança e um ritmo raro de se ver no país, o conjunto mescla músicas de amor a Deus, com temas sociais e até mesmo românticos, com bastante leveza.
“Nos alegra que as pessoas usem nossas músicas para dedicar a uma pessoa que ama, pois Deus é amor” – disse o baixista Rogério Feltrin no livro ‘Rock, Fé e Poesia’, lançado em 2008 durante as comemorações dos 20 anos da banda, junto ao CD e DVD ‘Rosa de Saron – acústico e ao vivo’, que alcançaram 425.000 cópias vendidas – números impressionantes em tempos de pirataria, diga-se de passagem.
O grupo que quebra paradigmas desde sua formação em 1988 e tem em seu currículo o disco Diante da Cruz (1994), considerado o primeiro álbum de Heavy Metal / Hardcore católico do mundo, supriu o desejo dos fãs na gravação do novo trabalho trazendo inovações musicais e tecnológicas.
A banda tocou 26 músicas que irão compor o DVD. Entre elas, canções que já haviam composto o repertório do álbum acústico como a queridinha das rádios ‘Sem Você’, os clássicos ‘Do alto da Pedra’, ‘Muitos choram’ e ‘Rara calma’ – com a Participação do cantor Maurício Manieri, - a primeira grande surpresa da noite que encantou o público com sua inusitada presença.
As canções do álbum Horizonte Distante (2009) foram as que tiveram mais espaço no show – o single ‘O Sol da meia-noite’ abriu o show e teve ainda ‘Minha Triste Imperfeição’, ‘Velhos Outonos’, ‘Mais que um mero Poema’, ‘Sobre Marés e Angras’, ‘Mesma Brisa’, ‘Entre Aspas’, ‘Na Chuva ao Fim da Tarde’, ‘Invisível’, ‘Um novo Adeus’, a emocionante ‘Menos de um Segundo’ com um depoimento tocante do vocalista Guilherme Sá e ‘Folhas do Chão’ com um pequeno pout-porri junto da música ‘With or without you’ do grupo Irlandês U2. Sucessos de outros discos também ganharam seu espaço; ‘Além do meu Jardim’, ‘Parúsia’, ‘Lembranças’ e ‘Tudo que é meu’ fizeram o público se emocionar.
Mas não era só isso que o grupo havia preparado para o público, mais cinco músicas inéditas incorporaram as demais; ‘Real em mim’, ‘Liberdade’ – com direito ao histórico discurso de Martin Luther King na introdução –, ‘Mais Além’, ‘Projecto Juno’, a bela ‘Você é tudo pra mim’ e o inusitado cover de ‘Mais uma vez’ do cantor Renato Russo, ex-líder do grupo Legião Urbana morto em 1996, vítima de HIV.
A banda impressionou o público com a qualidade instrumental de Eduardo Faro (guitarras / violões), Rogério Feltrin (baixo) e Wellington Greve (bateria) e a voz visceral de Guilherme de Sá (voz e violões / Guitarras), que segundo Maurício Manieri é “a melhor voz do Brasil”.
O espetáculo também contou com grandes efeitos de Luzes e um show de fogos no início e no fim da apresentação, deixando a plateia eufórica.
Quando as músicas se esgotaram, por volta da 1 e meia da manhã, a banda agradeceu a todos os presentes e fez uma oração, arrancando o silêncio das 3.500 pessoas presentes. Depois, entoaram um Pai Nosso seguido de uma Ave Maria rezada em coro por todo o HSBC HALL.
Os fãs vindos dos quatro cantos do país saíram com a expectativa do lançamento do DVD, previsto para Novembro deste ano.
Agora a banda volta a fazer shows já no próximo dia 17/09, em Macapá-AP e devido ao grande sucesso, voltarão a pisar no palco do HSBC dia 23 de Outubro.
Para os Rosarianos, a banda demonstrou de forma clara que estão mais fortes do que nunca e com a essência do trabalho cristão presente em cada canção. Como definiu o fã de Mogi das Cruzes, Willian, ‘O Rosa é como vinho, está cada vez melhor com o tempo’.

A banda Rosa de Saron (R. Feltrin, E. Faro, G. Sá e Grevão) lança
seu no 1º DVD elétrico em Novembro

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Quem tem razão nessa conversa?

Há alguns programas que tem se destacado na TV brasileira; os Talk Shows e os bons e velhos programas de entrevista.
No jornalismo, existe um certo preconceito com esse material, mas a inteligência e sarcasmo de seus mentores andam destruindo algumas barreiras. Muitos falam que são programas inúteis, sem teor de informação. Realmente, o foco é entreter, porém as boas produções costumam trazer convidados que geram belos debates racionais ou mesmo arrancam de nós boas risadas ou matam curiosidades espontâneas sobre esse ou aquele artista, político, ou simplesmente, pessoa interessante.
Exatos vinte e dois anos atrás, o humorista Jô Soares entrou na onda com o seu 'Onze e meia', pelo SBT, que muitas vezes começava depois da uma, como o próprio ironizava. O programa fez escola e muitos tentaram se matricular nela, mas o mundo das boas conversas é seleto.
Brito Junior tentou a idéia no, então recente , canal Record News, mas não engatou. Atualmente o cozinheiro e ex-parceiro de 'Hoje em dia', Edu Guedes, aposta em temperar seus pratos com boas conversas. Vai tentando.
Quando o entrevistado está de frente com a veterana Gabi, a conversa é um pouco mais 'cabeça', provocativa. A loira Marília Gabriela interroga em três emissoras com o mesmo dedo em riste e os óculos multifacetados. GNT e SBT vão muito bem, obrigado. O Roda Viva é outra história, ainda é necessário analisar com cuidado se o perfil da talentosa jornalista se alinha ao lendário programa. Uma inovação, para muitos, perigosa. Coisas de João Saiad.
Jô e Gabi são veteranos, mas de todos os novatos que excursionam nessas terras, os destaques vem da MTV Brasil. Figuras como o pragmático João Gordo apetitaram nosso bom gosto de curiosidades. Em seu extinto Gordo a Go Go, os entrevistados se sentiam a vontade com o deselegante apresentador. Com essa base, o programa proporcionava bons papos, alguns reveladores.
Quando o programa migrou para as visitas domiciliares, João entrevistou gente como Ronnie Von, Cláudia Leite, Di (Banda NX Zero), Arlindo Cruz, Celso Portiolli, Erasmo Carlos, Carlos Alberto de Nóbrega, Rubens Barrichelo, entre outros. A versatilidade dos entrevistados era marcada pela postura educada, mas provocativa do Gordo da Mtv.
João, mais leve e dono de uma sacada única para conversas de botequins, fez sucesso por mais de dez anos com clássicas entrevistas, até jogar tudo fora na Record.
A Mtv tinha a carta na manga e logo sacou um certo cantor Lobão e nos mostrou um sarcástico apresentador de primeira.
Com experiências em programas como o 'Saca Rolha', ao lado de Marcelo Tas e a bela Mariana Veickert, no Canal 21, o velho Lobo hoje incrementa discussões no MTV Debate e eleva assuntos surreais com os convidados do Lobotomia.
Polêmico, o cantor / apresentador repete a façanha de João Gordo ao quebrar carrancas dos telespectadores preconceituosos com seu trabalho e mostra, acima de tudo, muita inteligência em seus diálogos.
Todos os apresentadores citados têm algo em comum; prendem a atenção de todos com as conversas que todos nós queríamos ter tido.
O universo vive em eterno bate-papo. A comunicação é primordial, é primeiro poder, mas as prosas é que nos alegram.


Marcos Ferreira Silva

sábado, 28 de agosto de 2010

E a gente era tão feliz

Eu tenho um vídeo cassete, ou melhor, K7 e ele funciona. Atualmente o tenho utilizado para gravar especiais de fim de ano que passam na TV.
Ando tão nostálgico que cheguei ao ponto de ficar horas ouvindo músicas sertanejas que lembram o radinho de pilhas da minha mãe e suas transmissões das tardes de semana, embaladas por essas canções, na ansiosa espera da "...que saudade de você" do programa Eli Correa. E a gente era tão feliz...
Lembro-me daquelas tardes ensolaradas que eu tremia de medo no sofá da sala, graças às assombradas historias que o locutor narrava visceralmente no velho rádio, esse já aberto incalculáveis vezes por meu pai, numa tentativa incansável de fazê-lo funcionar. E ele conseguia, mas toda vez ele o tirava uma peça, que ironicamente não fazia falta. Infelizmente uma dessas peças fez falta e o rádio não funciona mais hoje em dia.
Sinto durante algumas manhãs a agradável sensação de voltar ao tempo que eu, meu irmão e minha mãe íamos aproveitar as promoções do mercado, comendo os pães ainda não pagos e correndo pelo estabelecimento quase vazio, dentro do carrinho cheio de macarrão instantâneo. E lembro dos dias frios depois da feira, que minha mãe fazia arroz, ovos fritos, feijão com coentro e uma salada de tomate com orégano que pareciam o melhor prato de todo o universo.
E a feliz coincidência de um dia ter me deparado com o acervo de gibis velhos do meu irmão, todos já meio amarelados e comidos por traças. E como foram boas aquelas tardes geladas das férias de Julho.
E como era legal, no verão, montar légos para mostrar pro meu pai quando ele chegasse do trabalho com sua típica sacólinha de roupas sujas às 5 da tarde... E a gente era tão feliz...
Me emociono só de lembrar das vezes que mamãe ficava doente e os homens da casa corriam para lá e para cá a fim de trazê-la as mil maravilhas para o lar, como naquele natal que uma ridícula sinusite a atacou e nós passamos a noite na porta do hospital em compania de um curioso gato que seguia meu irmão.
Ainda criança, tive o gosto milagroso de me apaixonar aos cinco anos por uma garotinha que morava no apartamento debaixo, que se mudou misteriosamente com a família, para que eu pudesse sentir pela primeira vez um karma que machuca todo homem.
Pudi me declarar aos seis anos para uma guria no meio da sala da sua casa, com direito à autorização da mãe da moça e tudo, como manda os costumes.
E um dia minhas pernas vibraram. Vi quando meu pai chegou às seis da tarde, durante um blecaute de energia, quando já estávamos preocupados, pois ele chegava às cinco, e lá estava ele com uma gaita na mão, qual eu havia pedido para tentar tocar como o menino-boneco do programa da TV...
Dei meu primeiro selinho na vovó do quarto andar e chorei aos sete, quando uma linda víbora loira (da mesma idade) me fez sofrer um ano inteiro, enquanto eu passava horas diárias a ouvir conselhos do meu irmão para como conseguir seu coração. Mas não deu certo.
Aos oito, tive o feliz destino de ser atacado por duas garotinhas ensandecidas - qual uma delas me presenteou com meu primeiro beijo.
Aos dez, acho que amei, e aos onze me apaixonei pela namorada de um amigo meu, e passei a pegar conselhos com outros amigos que nunca tinham vivido aquilo.
E chorei de alegria quando vi meu pai chegando debaixo de chuva com um violão nas costas às sete da noite, quando já estávamos ainda mais preocupados, pois ele chegava às cinco... e eu estava tão feliz...
Na sétima serie sai no braço com colegas de sala e fui taxado de baderneiro. E numa cirurgia eu retirei as amídalas, enquanto curtia a caminhada ao penta de madrugada numa cama de hospital, sem poder, logicamente, gritar...
Aos dezesseis eu amei, amei e amei, como nunca amei ninguém. E pude beijá-la no cinema durante um filme inteiro. E vibrava no quarto quando olhava pela janela, admirando a lua, cerrando os dentes e dizendo para mim mesmo que amava a garotinha mais linda do mundo... E eu estava mais do que feliz, eu flutuava...
Curtia muito Rock e montava uma banda atrás da outra. E comprei uma guitarra. E conheci os melhores amigos que eu podia ter. A gente era tão feliz...
Passávamos as aulas inteiras conversando e rindo de imitações e piadas que fazíamos. Zoávamos e me zoavam. E a gente estava mais feliz do que supúnhamos...
E depois eu chorei, chorei e chorei ainda mais do que eu imaginava que podia chorar ao ver a garotinha linda indo embora e me deixando para sempre, e eu a amava e amava mais do que eu supunha que podia amá-la e fiz uma série de músicas cafonas... E chorava. Meus amigos ficavam com raiva do meu lamentar sem fim. Eles xingavam, brigavam e depois me faziam rir...
Conheci mais um pouco da vida e encostei as músicas velhas.
E conheci ainda mais o mundo e vi gente chorando ao ouvir alguém tocando depois de uma comunhão na missa, mas era eu que estava lá na frente. Daí eu vi Jesus abraçando as pessoas e eu queria ficar ali a vida inteira. Depois eu vi muita coisa e senti muitas outras coisas e senti o que jamais esquecerei. E aconteceu tudo que eu jamais imaginei, e tudo parecia um sonho bom e ao mesmo tempo uma espécie de pesadelo. Uma contradição. E eu estava confuso.
Depois eu simplesmente gamei, e passei mal com um hambúrguer, e depois disso a chama apagou... Hoje eu evito comer nos encontros.
Conheci o desejo e uma serva de curvas deslumbrantes que me pirava e beijei uma loira numa estação de metrô e a cena se registrou como um filme... E naquela noite eu não conhecia ninguém mais feliz que eu...
E eu tinha uns amigos que tocavam e tocávamos as pessoas e vibrávamos com o som e sorriamos bobos com nós mesmos e, sabíamos que, nunca mais seriamos mais felizes do que naquele momento, e estávamos inteiramente certos.
Vi quando algumas pessoas partiram e vi o mundo de cabeça para baixo.
Estudei e conheci o ônibus mais interessante do mundo, com a viagem mais louca e as conversas inesquecíveis de todos os jovens... E eu trabalhei dois meses e saíram comigo. Chorei. Trabalhei um ano e tive de sair. Sorri. Trabalhei muito e muito e continuo, chorando e sorrindo...
Vi a vida tomando formas e amigos casando. Vi outros encontrando a alma gêmea e vi um amigo sendo pai. Tremi quando imaginei que poderia ser pai também.
Conheci uma garota que me mostrou que havia mais coisas entre o céu e a terra do que supunha a minha inútil e vã filosofia. E eu a dispensei por que não a amava. A fiz sofrer, e isso me doeu. O seu prazer ficou na memória.
Conheci uma garota e me apaixonei. E eu tentei tê-la, a fiz conhecer o mundo e a mostrei a poesia esquecida que ainda há no universo e tentei lhe convencer que podia haver um horizonte lindo, com um amanhã dos sonhos, e com nós dois. Um abraço, uma música. E ela não podia ser minha. E ela partiu...
Vi a cidade estranha e o mar. Vi Minas e Paraná.
Vi a faculdade berrar na minha frente, e lutei pelo sonho.
Sonhei com Londres, mas não sai de São Paulo.
E eu queria tudo, e conheci o erro, e era mais uma mulher deitada.
Tive uma amiga que chorava, pensava e pirava comigo e nós sabíamos que podíamos ser mais felizes.
E me alegrei ao saber que, debaixo do teto que morava, nós éramos inteiramente felizes.
Caí numa gargalhada quando olhei a minha volta e vi um contra baixo, uma bateria, violões e guitarras e um som animal sendo carregado no carro do meu pai. Vi minha mãe, minha avó e meu irmão baterem palmas para mim e um orgulho inconfundível no olhar de meu pai. Mas nada de chorar. Sem frescura, pelo amor de Deus.
E pude vibrar ao ter certeza que podia chamar de amigos de verdade aquele bando de gente que construía sua historias paralelas de uma só vez, todas ao mesmo tempo.
E meu irmão, sangue de meu sangue montou sua casa e me mostrou que viver é agora.
Eu rezei.
Vi Deus.
Aplaudi ao fim da primeira parte dessa história, por saber que a gente era tão feliz e que poderemos ser ainda mais, muito e muito mais felizes...
Marcos Ferreira Silva

sábado, 7 de agosto de 2010

O Soldado da Paz de Ermelino Matarazzo


O Brasil vive uma onda positiva de trabalhos sociais feitos por grandes artistas da música e da televisão. Alguns bons exemplos são os projetos Casa da Gente do cantor Netinho de Paula, o Lar dos Artistas, coordenado pela atriz Nicette Bruno e o Projeto Viva Cazuza, idealizado pela mãe do cantor, Lucinha Araújo. Esses bons exemplos são velhos conhecidos da mídia nacional, estão sempre presentes na televisão. São instituições que mostram a política do amor ao próximo. Ainda são poucos, mas fazem escolas.
Nos recantos de Ermelino Matarazzo, Zona Leste de São Paulo, como em várias partes do país, existe um exemplo de ajuda humanitária que não possui os holofotes da mídia, mas dá um show de cidadania.
Para podermos falar do projeto Samba no Asfalto, fui até Ermelino acompanhando de meu amigo Amarildo Vieira, jovem jornalista igual a mim e orgulhoso morador daquele distrito. Combinei com Amarildo ao meio dia. Era um início de tarde gelado a sombra e ardente debaixo do sol.
Fomos ao bar onde combinamos de encontrar o fundador do projeto, o músico Ricardo Reis. Não o conhecia pessoalmente, mas logo que pedimos uma cerveja me deparo com um pôster anunciando o DVD de Ricardo Reis, preso ao fundo do bar. Enquanto prestava atenção no cartaz, Amarildo cumprimentava os frequentadores do local. Um deles, observando minha atenção ao pôster, comentou com Amarildo – “Vocês vão entrevistar o homem?”. – Amarildo disse que sim e demonstrou sua apreensão ao esperar nosso entrevistado, mas o frequentador do bar logo nos acalmou “Fiquem tranquilos, o sujeito é ponta firme”.
Nos minutos que seguiram, o pessoal nos mostrou a fachada do prédio que abrigava o projeto.
Logo depois, um carro popular se aproximou de nós, mas, antes de estacionar, foi abordado por um rapaz sorridente. Ricardo conversou rapidamente e, finalmente, parou o carro, cumprimentou o pessoal que estava no bar e foi falar conosco.
Nos chamou para a entrevista na casa de um amigo e lá fomos. O dialogo ocorreu no quarto de um amigo de Ricardo que tinha uma vista ampla para a comunidade e um bom espaço para churrascos de fim de semana. O nosso entrevistado estava tranquilo e começou a falar, logo depois que viu alguns CDs de Chico Buarque e outros artistas do Samba e da MPB.
O mineiro Ricardo nos contou sobre como ingressou no samba, das tradicionais rodas e como parou em São Paulo graças à carreira de ator. “Fui estudar teatro e dança, me formei em artes cênicas. Minha família tem essa tendência pelo samba de raiz. A roda de samba era enorme e para você chegar no meio era muito complicado. Aos poucos você vai chegando. Foi assim que eu consegui cantar, pela primeira vez, um samba com Toninho Geraes, e daí comecei a fazer vários trabalhos até chegar em São Paulo”.
Utilizando-se do talento no teatro e pela música, Ricardo Reis movia-se por um trabalho social. Um projeto para a comunidade. Mudar a realidade dos jovens com o samba raiz era seu intuito. E isso começou a ser feito em julho de 2007.
As crianças saíam das ruas para fazer samba, conhecer uma nova realidade. Ricardo Reis falava da importância do samba de raiz e como o jovem, que não conhecia aquela música, se interessava pelo ritmo. “Qual seria a intenção do projeto? – fazer pelo menos duas vezes por semana um samba para a comunidade e nos finais de semana dar aulas de teatro, cavaco, violão, percussão, dança para as crianças e para a comunidade”.
Segundo o cantor Netinho de Paula, líder do Projeto Casa da Gente, localizado em Carapicuíba, Zona Oeste de São Paulo, durante uma entrevista a Redetv “A atração, então desconhecida para aqueles jovens, se torna algo que o faz ter vontade de conhecer melhor aquele mundo e imaginar um futuro com mais esperanças para ele, longe da criminalidade e mais perto da arte”. Essa ideia, normalmente compartilhada pelos projetos sociais também é sentida por Ricardo Reis: “O jovem da comunidade vem aos finais de semana tem aula, faz um samba e volta pra casa pensando no próximo”.
Manter um projeto não é tarefa das mais fáceis e requer o máximo de ajuda possível, o que muitas vezes não custa muito para os governos ou órgãos privados, mas é fundamental para levantar ideias assim. O Samba no Asfalto tem um pouco dessa ajuda. “Nós temos o apoio de uma ONG, o Centro Popular da Comunidade Nossa Senhora Aparecida. Essa organização tem o apoio da prefeitura”.
A música como porta de entrada para tirar jovens das ruas é um recurso muito usado por grupos sociais. O Samba no Asfalto sabe usá-lo muito bem, com a mesma vitalidade de seu fundador. O grupo com mais de cem jovens costuma fazer apresentações fora do próprio instituto, tocando com nomes como o Samba da Vela, onde eles podem sentir o prazer de tocar e vivenciar a música.
“A música transforma as pessoas, por essa razão é tão utilizada por grupos sociais” – diz a psicóloga da comunicação Vilma Yoko. “Ela aproxima o ser humano, pois ninguém faz música só, mas pode tocá-la para quem quiser e para si próprio e isso une as pessoas” – afirma a doutora.
Para Ricardo, que estava à vontade na comunidade que ajudava a dar uma nova cara, isso também era fundamental: “No momento que você tem um sonho e ele é quebrado, ele quebra também parte da tua vida”.
Depois da conversa, fomos a um pequeno restaurante e provamos uma feijoada em pleno sábado. Lá, já sem nenhum compromisso com a entrevista, Ricardo continuava a falar da importância da vida social: “A garotada pode ver que tem um outro lado, que pode viver da arte, ou não, mas independente de seguir na música, na dança ou no teatro, ele vai saber que está cheio de coisas boas para se fazer por aí”.
Ouça na Seção ‘Aliviando sua Garganta’ (ao lado) um PodCast extraído da entrevista concedida pelo músico Ricardo Reis para o Programa "Leitura do Samba", produzido pelos alunos de comunicação da Uninove.


Marcos Ferreira Silva

domingo, 1 de agosto de 2010

Do desânimo (Paulo Coelho)

Deparei-me com este texto na coluna do Paulo Coelho, no G1, e foi inevitável não refletir sobre esse sentimento que nos toma, vez ou outra, sim, mas que se faz valido quando o enxergamos dessa maneira.
Um guerreiro da luz muitas vezes sente-se desanimado. Acha que nada do que faz está dando resultado, que suas tarefas são repetitivas, e que não tem a emoção que ele esperava despertar.
Muitas tardes e noites ele é obrigado a ficar sustentando uma posição conquistada, sem que nada de novo aconteça. Seus amigos comentam: “talvez sua luta já tenha terminado. É melhor partir para uma outra atividade, e deixar de lado estes sonhos da infância – porque você não vai conseguir”.
O guerreiro sente dor e confusão ao escutar estes comentários. Mesmo assim, não abandona o que decidiu fazer; sabe que em breve uma nova porta se abrirá, e ele vai poder seguir adiante.
Fonte: G1.com.br

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A queda das nossas arnaduras

Estava passeando por alguns blogs e me deparei com uma poesia de Mário Quintana. É de praxe, sempre vamos nos encontrar com as poesias de Quintana por aí, mas o que é difícil é não se encantar com suas palavras, com cada texto inicialmente simplório, com o todo o respeito, digo no sentido de livre, descompromissado, mas inteiramente humano.
Por que a poesia é simples, pelo fato que vem de dentro do coração e expressa a alma humana. Mário Quintana era o poeta que, na minha opinião, melhor soube arrancar nossas armaduras, aquelas cascas inúteis que carregamos diariamente embaixo dos nossos ternos ou na ponta de sapatos de salto quinze, nos congestionamentos e nos trens.
Dissipa o nosso egoísmo e nos põe a entender o imenso tamanho da nossa pequena grande vida. Não há nada maior que as vidas que carregamos. Não existe, nem se sonha existir nada que seja maior que as nossas experiências corriqueiras.
Todos nós, seres humanos, somos movidos pelas emoções quais vivemos todos os dias. Quando refletimos uma vez na nossa estrada, vemos tantos erros e acertos. Falhas e correções. Medos e certezas.
Tristezas e alegrias. É simplesmente impossível passear pela vida e não se deparar com um turbilhão de sentimentos a cada esquina. Ouvimos tantas canções populares e não notamos a poesia debaixo de muitas delas. Em tantos jardins passeamos e não enxergamos as flores brotando.
Temos tantos amores ao nosso lado e não nos damos conta de quão importante eles são. Talvez, seja utopia dizer, que a poesia é o que nos move, mas é real que mesmo que a ignoramos ela está presente em todo o lugar e até que não a declamamos, mas ela está sempre lá, esperando que nos demos conta de tudo isso.
E quando teimosos como eu não conseguem compreender isso, mestres como Quintana invadem nossos duros corações e nos enchem daquilo que muitas vezes nos falta. Vida.
P.S. Minha inspiração venho do texto ‘Um dia’ postado no blog:
Marcos Ferreira Silva

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A vida como ela é

Durante dez anos, de 1951 a 1961, Nelson Rodrigues escreveu sua coluna A vida como ela é para o jornal Última Hora, de Samuel Wainer. Seis dias por semana, chovesse ou fizesse sol. A chuva podia ser como a do quinto ato do Rigoletto e o sol, daqueles de derreter catedrais, segundo ele.
Todo dia, com uma paciência chinesa e uma imaginação demoníaca, Nelson escrevia uma história diferente. E quase sempre sobre o mesmo assunto: adultério.
Desse tema tão simples e tão eterno, ele extraiu quase 2 mil histórias. Os ficcionistas que fingem se levar a sério precisam de toda uma aura de mistério para criar. Nelson dispensava esse mistério. Chegava cedinho à redação, acendia um cigarro e, na frente dos colegas, entre miríades de cafezinhos, escrevia A vida como ela é.
As histórias saíam de casos que lhe contavam, da sua própria observação dos subúrbios cariocas ou das cabeludas paixões de que ele ouvira falar em criança. Mas principalmente da sua meditação sobre o casamento, o amor e o desejo.
O cenário dos contos de A vida como ela é é o Rio de Janeiro dos anos 50. Uma cidade em que casanovas de plantão e mulheres fabulosas flertavam nos ônibus e bondes; em que poucos tinham carro, mas esse era um Buick ou um Cadillac; em que os vizinhos vigiavam-se uns aos outros; e em que maridos e mulheres viviam sob o mesmo teto com as primas e os cunhados, numa latente volúpia incestuosa.
Uma cidade em que, como não havia motéis, os encontros amorosos se davam em apartamentos emprestados por amigos — donde o pecado, de tão complicado, tornava-se uma obsessão. E uma época em que a vida sexual, para se realizar, exigia o vestido de noiva, a noite de núpcias, a lua-de-mel. E em que o casal típico — e, de certa forma, perfeito — compunha-se do marido, da mulher e do amante.
Sinpose oficial do DVD lançado pela Som Livre / Globo Marcas