quinta-feira, 29 de julho de 2010

A queda das nossas arnaduras

Estava passeando por alguns blogs e me deparei com uma poesia de Mário Quintana. É de praxe, sempre vamos nos encontrar com as poesias de Quintana por aí, mas o que é difícil é não se encantar com suas palavras, com cada texto inicialmente simplório, com o todo o respeito, digo no sentido de livre, descompromissado, mas inteiramente humano.
Por que a poesia é simples, pelo fato que vem de dentro do coração e expressa a alma humana. Mário Quintana era o poeta que, na minha opinião, melhor soube arrancar nossas armaduras, aquelas cascas inúteis que carregamos diariamente embaixo dos nossos ternos ou na ponta de sapatos de salto quinze, nos congestionamentos e nos trens.
Dissipa o nosso egoísmo e nos põe a entender o imenso tamanho da nossa pequena grande vida. Não há nada maior que as vidas que carregamos. Não existe, nem se sonha existir nada que seja maior que as nossas experiências corriqueiras.
Todos nós, seres humanos, somos movidos pelas emoções quais vivemos todos os dias. Quando refletimos uma vez na nossa estrada, vemos tantos erros e acertos. Falhas e correções. Medos e certezas.
Tristezas e alegrias. É simplesmente impossível passear pela vida e não se deparar com um turbilhão de sentimentos a cada esquina. Ouvimos tantas canções populares e não notamos a poesia debaixo de muitas delas. Em tantos jardins passeamos e não enxergamos as flores brotando.
Temos tantos amores ao nosso lado e não nos damos conta de quão importante eles são. Talvez, seja utopia dizer, que a poesia é o que nos move, mas é real que mesmo que a ignoramos ela está presente em todo o lugar e até que não a declamamos, mas ela está sempre lá, esperando que nos demos conta de tudo isso.
E quando teimosos como eu não conseguem compreender isso, mestres como Quintana invadem nossos duros corações e nos enchem daquilo que muitas vezes nos falta. Vida.
P.S. Minha inspiração venho do texto ‘Um dia’ postado no blog:
Marcos Ferreira Silva

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A vida como ela é

Durante dez anos, de 1951 a 1961, Nelson Rodrigues escreveu sua coluna A vida como ela é para o jornal Última Hora, de Samuel Wainer. Seis dias por semana, chovesse ou fizesse sol. A chuva podia ser como a do quinto ato do Rigoletto e o sol, daqueles de derreter catedrais, segundo ele.
Todo dia, com uma paciência chinesa e uma imaginação demoníaca, Nelson escrevia uma história diferente. E quase sempre sobre o mesmo assunto: adultério.
Desse tema tão simples e tão eterno, ele extraiu quase 2 mil histórias. Os ficcionistas que fingem se levar a sério precisam de toda uma aura de mistério para criar. Nelson dispensava esse mistério. Chegava cedinho à redação, acendia um cigarro e, na frente dos colegas, entre miríades de cafezinhos, escrevia A vida como ela é.
As histórias saíam de casos que lhe contavam, da sua própria observação dos subúrbios cariocas ou das cabeludas paixões de que ele ouvira falar em criança. Mas principalmente da sua meditação sobre o casamento, o amor e o desejo.
O cenário dos contos de A vida como ela é é o Rio de Janeiro dos anos 50. Uma cidade em que casanovas de plantão e mulheres fabulosas flertavam nos ônibus e bondes; em que poucos tinham carro, mas esse era um Buick ou um Cadillac; em que os vizinhos vigiavam-se uns aos outros; e em que maridos e mulheres viviam sob o mesmo teto com as primas e os cunhados, numa latente volúpia incestuosa.
Uma cidade em que, como não havia motéis, os encontros amorosos se davam em apartamentos emprestados por amigos — donde o pecado, de tão complicado, tornava-se uma obsessão. E uma época em que a vida sexual, para se realizar, exigia o vestido de noiva, a noite de núpcias, a lua-de-mel. E em que o casal típico — e, de certa forma, perfeito — compunha-se do marido, da mulher e do amante.
Sinpose oficial do DVD lançado pela Som Livre / Globo Marcas

sábado, 3 de julho de 2010

Sopro da vida

Existem coisas na vida que são tão difíceis de entender. São mistérios que mal podemos sugerir um final. Não sabemos o que será do nosso amanhã. Em hipóteses, calculamos valores, planejamos viagens, esquematizamos carreiras, traçamos inúmeros projetos sem realmente saber para aonde caminhamos. Sonhamos em ter todos que amamos à nossa volta. Mas as vidas se expiram. Muitos que valorizamos e que não queríamos que fosse vão no ‘sopro da vida’.
Gostamos de muita gente por aí. Muitos ficam, outros partem por uma enigmática força da natureza, outros vão por indecifráveis forças do egoísmo humano. Muitas vezes achamos que o amanhã não fará sentido sem essa ou aquela pessoa, mas Deus nos põe de encontro a nossa essência e descobrimos a força e todo o nosso lado Fênix.
As lágrimas vão cair ao perdermos alguém. Haverá motivos para chorarmos quando algo também não é conquistado.
As nossas inquietudes nos moldam o coração, nos aprontam para o que a vida nos mostra.
Conquistamos coisas que sonhamos, ou simplesmente vivenciamos o mistério dos prazeres que a vida nos dá.
Lá está, a mesa cheia. Crianças correm pela casa. Foram difíceis os dias de horas extras no trabalho. Os exercícios da escola. Mais uma apresentação na faculdade.
Mas e o brinde no bar? Os amigos reunidos numa festa. As fotos que ficarão para sempre. As lembranças, essas sim, nos acompanharam. Os beijos ficarão não memória. O abraço e o riso.
As pessoas duras de coração não enxergam a vida passar, talvez vejam mais ‘não’ do que sim.
E é sim. A vida é feita das pequenas coisas. Todas as vindas e idas de pessoas em nosso coração constroem o ser humano que passará por essa terra. Constrói uma coisa chamada história.
Se pudéssemos, acho que não brigávamos, mas também jamais nos conheceríamos. Nunca testaríamos nossos valores. O afastamento é natural, a dura inquietude da vida nos molda para o amanhã.
Uma vez estava refletindo como me via naquela circunstância. Sentia tantas saudades daqueles que a dura vida colocou em estradas diferentes. Em dez anos, conhecemos e amamos muitas pessoas. É fato, triste e consumado, que poucas dessas pessoas seguiram conosco. A rotina coloca um de cada lado. Quantas colegas, paixões...
“A vida passa muito rápido, bem depressa, e só temos uma chance de viver. Tenha fé.”
Um dia olharemos para trás e saberemos que tudo aquilo nos fez ser quem somos. E, finalmente aprenderemos que é bom sentir saudade, ruim é não ter do que sentir saudade. Não sonhar... e não saber amar...
Marcos Ferreira Silva