quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um 22 de Setembro qualquer

Hoje o dia nasceu tímido. Sem maiores expectativas. Correndo rasteiro e sem graça. O sol de véspera de primavera plana com graça no ar. Quando cruzamos as ruas, podemos notar os rostos angustiados de uma quarta-feira com cara de segunda. Todos acostumados com a escravização moderna do homem. A rotina.
Os escritórios estão lotados de auxiliares e executivos submersos em cafés servidos em copinhos de plástico e xícaras de porcelana barata. As gravatas e os saltos sufocam as pessoas. Os carros atravessam a marginal a 80 quilômetros por hora. As crianças estão sentadas nas carteiras da escola entendendo física e química, mexendo em seus celulares, qual receberam precocemente no último aniversário. Desconhecem brincar de amarelinha.
Do outro lado, dentro de um sobrado, alguém limpa a casa ouvindo histórias na rádio AM. O locutor é seu único amigo desde que o amor foi embora. Perto dali, alguém exprime a vontade de estar sufocado em um terno, mas ao menos teria um emprego, um salário para sair da frente do televisor depois de mais uma noite de insônia.
Muitos quilômetros daquela vila, o garoto desce as dunas de areia e corre para o mar deserto, cortando uma leve ventania. A brisa corre longe e alivia o calor do rapaz no escritório que folga os sapatos debaixo da mesa. Enquanto o telefone toca incessantemente, a mesa ao lado está vazia e sua dona, despreocupada, contempla o céu sem nuvens daquele dia vinte e dois de setembro qualquer.
Marcos Ferreira Silva

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vinho de rosa

Na última sexta-feira, 10, São Paulo assistiu a gravação do DVD de um dos maiores nomes da música Católica no Brasil, o grupo Rosa de Saron. Consolidado no Rock, a banda de Campinas leva na bagagem 22 anos de história e um modo de falar das relações humanas e de Deus como nenhuma outra.
O HSBC HALL ficou pequeno para a empolgação das mais de 3.500 pessoas que lotaram a casa. “Eles são demais, são abençoados, mesmo” – dizia uma menina empolgada durante o Show.
Os jovens católicos ou de algum seguimento religioso são maioria no meio dos fãs do grupo, mas não são apenas esses os seus ouvintes. Cada vez mais pessoas conhecem e admiram os roqueiros campinenses. Com suas músicas cheias de mensagens de amor e esperança e um ritmo raro de se ver no país, o conjunto mescla músicas de amor a Deus, com temas sociais e até mesmo românticos, com bastante leveza.
“Nos alegra que as pessoas usem nossas músicas para dedicar a uma pessoa que ama, pois Deus é amor” – disse o baixista Rogério Feltrin no livro ‘Rock, Fé e Poesia’, lançado em 2008 durante as comemorações dos 20 anos da banda, junto ao CD e DVD ‘Rosa de Saron – acústico e ao vivo’, que alcançaram 425.000 cópias vendidas – números impressionantes em tempos de pirataria, diga-se de passagem.
O grupo que quebra paradigmas desde sua formação em 1988 e tem em seu currículo o disco Diante da Cruz (1994), considerado o primeiro álbum de Heavy Metal / Hardcore católico do mundo, supriu o desejo dos fãs na gravação do novo trabalho trazendo inovações musicais e tecnológicas.
A banda tocou 26 músicas que irão compor o DVD. Entre elas, canções que já haviam composto o repertório do álbum acústico como a queridinha das rádios ‘Sem Você’, os clássicos ‘Do alto da Pedra’, ‘Muitos choram’ e ‘Rara calma’ – com a Participação do cantor Maurício Manieri, - a primeira grande surpresa da noite que encantou o público com sua inusitada presença.
As canções do álbum Horizonte Distante (2009) foram as que tiveram mais espaço no show – o single ‘O Sol da meia-noite’ abriu o show e teve ainda ‘Minha Triste Imperfeição’, ‘Velhos Outonos’, ‘Mais que um mero Poema’, ‘Sobre Marés e Angras’, ‘Mesma Brisa’, ‘Entre Aspas’, ‘Na Chuva ao Fim da Tarde’, ‘Invisível’, ‘Um novo Adeus’, a emocionante ‘Menos de um Segundo’ com um depoimento tocante do vocalista Guilherme Sá e ‘Folhas do Chão’ com um pequeno pout-porri junto da música ‘With or without you’ do grupo Irlandês U2. Sucessos de outros discos também ganharam seu espaço; ‘Além do meu Jardim’, ‘Parúsia’, ‘Lembranças’ e ‘Tudo que é meu’ fizeram o público se emocionar.
Mas não era só isso que o grupo havia preparado para o público, mais cinco músicas inéditas incorporaram as demais; ‘Real em mim’, ‘Liberdade’ – com direito ao histórico discurso de Martin Luther King na introdução –, ‘Mais Além’, ‘Projecto Juno’, a bela ‘Você é tudo pra mim’ e o inusitado cover de ‘Mais uma vez’ do cantor Renato Russo, ex-líder do grupo Legião Urbana morto em 1996, vítima de HIV.
A banda impressionou o público com a qualidade instrumental de Eduardo Faro (guitarras / violões), Rogério Feltrin (baixo) e Wellington Greve (bateria) e a voz visceral de Guilherme de Sá (voz e violões / Guitarras), que segundo Maurício Manieri é “a melhor voz do Brasil”.
O espetáculo também contou com grandes efeitos de Luzes e um show de fogos no início e no fim da apresentação, deixando a plateia eufórica.
Quando as músicas se esgotaram, por volta da 1 e meia da manhã, a banda agradeceu a todos os presentes e fez uma oração, arrancando o silêncio das 3.500 pessoas presentes. Depois, entoaram um Pai Nosso seguido de uma Ave Maria rezada em coro por todo o HSBC HALL.
Os fãs vindos dos quatro cantos do país saíram com a expectativa do lançamento do DVD, previsto para Novembro deste ano.
Agora a banda volta a fazer shows já no próximo dia 17/09, em Macapá-AP e devido ao grande sucesso, voltarão a pisar no palco do HSBC dia 23 de Outubro.
Para os Rosarianos, a banda demonstrou de forma clara que estão mais fortes do que nunca e com a essência do trabalho cristão presente em cada canção. Como definiu o fã de Mogi das Cruzes, Willian, ‘O Rosa é como vinho, está cada vez melhor com o tempo’.

A banda Rosa de Saron (R. Feltrin, E. Faro, G. Sá e Grevão) lança
seu no 1º DVD elétrico em Novembro

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Quem tem razão nessa conversa?

Há alguns programas que tem se destacado na TV brasileira; os Talk Shows e os bons e velhos programas de entrevista.
No jornalismo, existe um certo preconceito com esse material, mas a inteligência e sarcasmo de seus mentores andam destruindo algumas barreiras. Muitos falam que são programas inúteis, sem teor de informação. Realmente, o foco é entreter, porém as boas produções costumam trazer convidados que geram belos debates racionais ou mesmo arrancam de nós boas risadas ou matam curiosidades espontâneas sobre esse ou aquele artista, político, ou simplesmente, pessoa interessante.
Exatos vinte e dois anos atrás, o humorista Jô Soares entrou na onda com o seu 'Onze e meia', pelo SBT, que muitas vezes começava depois da uma, como o próprio ironizava. O programa fez escola e muitos tentaram se matricular nela, mas o mundo das boas conversas é seleto.
Brito Junior tentou a idéia no, então recente , canal Record News, mas não engatou. Atualmente o cozinheiro e ex-parceiro de 'Hoje em dia', Edu Guedes, aposta em temperar seus pratos com boas conversas. Vai tentando.
Quando o entrevistado está de frente com a veterana Gabi, a conversa é um pouco mais 'cabeça', provocativa. A loira Marília Gabriela interroga em três emissoras com o mesmo dedo em riste e os óculos multifacetados. GNT e SBT vão muito bem, obrigado. O Roda Viva é outra história, ainda é necessário analisar com cuidado se o perfil da talentosa jornalista se alinha ao lendário programa. Uma inovação, para muitos, perigosa. Coisas de João Saiad.
Jô e Gabi são veteranos, mas de todos os novatos que excursionam nessas terras, os destaques vem da MTV Brasil. Figuras como o pragmático João Gordo apetitaram nosso bom gosto de curiosidades. Em seu extinto Gordo a Go Go, os entrevistados se sentiam a vontade com o deselegante apresentador. Com essa base, o programa proporcionava bons papos, alguns reveladores.
Quando o programa migrou para as visitas domiciliares, João entrevistou gente como Ronnie Von, Cláudia Leite, Di (Banda NX Zero), Arlindo Cruz, Celso Portiolli, Erasmo Carlos, Carlos Alberto de Nóbrega, Rubens Barrichelo, entre outros. A versatilidade dos entrevistados era marcada pela postura educada, mas provocativa do Gordo da Mtv.
João, mais leve e dono de uma sacada única para conversas de botequins, fez sucesso por mais de dez anos com clássicas entrevistas, até jogar tudo fora na Record.
A Mtv tinha a carta na manga e logo sacou um certo cantor Lobão e nos mostrou um sarcástico apresentador de primeira.
Com experiências em programas como o 'Saca Rolha', ao lado de Marcelo Tas e a bela Mariana Veickert, no Canal 21, o velho Lobo hoje incrementa discussões no MTV Debate e eleva assuntos surreais com os convidados do Lobotomia.
Polêmico, o cantor / apresentador repete a façanha de João Gordo ao quebrar carrancas dos telespectadores preconceituosos com seu trabalho e mostra, acima de tudo, muita inteligência em seus diálogos.
Todos os apresentadores citados têm algo em comum; prendem a atenção de todos com as conversas que todos nós queríamos ter tido.
O universo vive em eterno bate-papo. A comunicação é primordial, é primeiro poder, mas as prosas é que nos alegram.


Marcos Ferreira Silva