domingo, 17 de outubro de 2010

Ser Titã em 2010

Os Titãs e seus quase 30 anos de banda passaram por várias transformações. No som do grupo passou o Ska, o romântico, o pesado, o protesto e tudo mais que se possa imaginar. Desde Sonífera Ilha a Vossa Excelência, os Titãs mostraram uma versatilidade sem igual. Há quem diga que eles já foram bons, que já foram Rock e hoje são apenas um nicho do mercado (quase falido) fonográfico. Essas acusações geradas pelos anos e pelo que o púbico presenciou nas saídas de Arnaldo Antunes, Nando Reis, Charles Gavin e pela triste morte de Marcelo Frommer.
Eu já estava quase convencido que pela metamorfose dos singles isso realmente acontecia até ver um Show da banda este ano na Virada Cultural de São Paulo. Embasbacado, vi milhares de pessoas pulando e gritando com Polícia e Bichos Escrotos e levando as mãos de um lado pro outro com a letra de Epitáfio na ponta da língua. Senhoras e senhores de linha e terno e novos e velhos roqueiros da ponta do coturno até a última ponta dos cumpridos cabelos - unidos pela força daquele som. Rock and Roll de verdade. Uma coisa inimaginável para senhores de cinqüenta anos ou mais.
A estável carreira desses ‘meninos’ em outras áreas como literatura, cinema e tv não os fazem pior quando se encontram, ao contrário, desperta a fúria do titã adormecido.
De presente um vídeo da banda no Domingão do Faustão no ano de 1993. Quando eles já eram maduros e criticados ao extremo pelo simples fato de ir num programa popular. Contudo, estavam tocando uma coisa chamada Titanomaquia – um dos maiores álbuns do Rock Nacional de todos os tempos.
Vocês ainda acham que eles vão acabar a qualquer momento por isso? Façam suas apostas.
Marcos Ferreira Silva

Para quem o tempo?

O tempo é uma coisa muito aleatória para as nossas mentes. Nunca saberemos como será a primeira hora do amanhã, mas sempre seremos dependentes do que foi ontem. Isso é simplesmente magnífico. 
Mas é triste quando os anos que se passaram fazem alguns acharem que estamos tratando de um defeito. Podemos resumir isso em burrice, plena, insana e desumana.
Uma história me tomou recentemente. Uma reflexão na prática. Realizadas por pessoas de bom senso para a vida. Em 2006, Selton Mello dirigiu Jorge Loredo, o eterno Zé Bonitinho, no curta-metragem “Quando o Tempo Cair”.
No mesmo ano, só que alguns meses antes, Selton o havia entrevistado no “Tarja Preta”, programa do Canal Brasil, e quis saber por que ele estava há tanto tempo - desde 1978 - sem fazer cinema. Resposta do Loredo: “porque não me convidam!”. (Trecho retirado da Coluna do Jornalista Flávio Ricco - http://televisao.uol.com.br/colunas/flavio-ricco/)
Inerte a isso, convido-os a ver essa real história de ficção.
Quando o Tempo Cair
Gênero: Ficção
Diretor Selton: Mello
Ano: 2006
Duração: 15 min
Cor: Colorido
Bitola: 35mm
País: Brasil
Marcos Ferreira Silva

domingo, 10 de outubro de 2010

Parabéns, John!


Fazer homenagens, definitivamente, não é comigo. Muitas vezes me faltam palavras para falar de alguns artistas que parecem nos entender mais do que nós mesmos. John era um desses raros seres.
Na minha infância, um padre Irlandês que vivia no Brasil transformou suas melodias em cantos para a 'quadrada' paróquia. Causando a fúria de todos os Padres e Bispos 'normais'.
Mas com seu sangue juvenil, já aos oitenta anos, usou a sensibilidade para dizer da forma mais simples possível o que era um bom sentimento para pessoas sedentas de inteligência e de vida a flor da pele. 
Essa foi à primeira vez que ouvi o nome de John Lennon. Desde então, quando penso em falar algo, me lembro que ele, com poucas palavras, falava a todos nós.
Por isso me calo e o ouço. Simplesmente assim.
Marcos Ferreira Silva

sábado, 9 de outubro de 2010

A Soberania PARATODOS

Os olhos azuis de Chico Buarque de Hollanda já estão no auge de seus 66 anos e ele continua travando duelos inteligentes com suas músicas que, hoje, são confundidas com hinos de um tempo que não se acaba, porque Chico está aí, como um bom vinho.
Quando iniciou sua carreira em 1964, com um show no Colégio Santa Cruz, cantando a música ‘Tem mais Samba’ feita para o espetáculo Balanço do Orfeu, Chico Buarque cantou no mesmo palco de outros grandes talentos da música que começavam a ganhar reconhecimento como Jorge Ben, Nara Leão e Elis Regina.
Quando compôs ‘A Banda’, em 1966, dividiu com a música ‘Disparada’ - de Théo de Barros e Geraldo Vandré - o primeiro lugar no II Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record. A canção se tornou sucesso imediato, sendo saudada com uma Crônica de ninguém menos que Carlos Drummond de Andrade. O compacto com a música vendeu mais de 100 mil cópias em uma semana.
Com o tempo, os sucessos foram se ampliando a ponto de ser conhecido pelo público como “a única unanimidade nacional” de acordo com a frase de Millôr Fernandes, que se tornaria seu futuro desafeto.
Paralelo ao sucesso de suas canções, Chico Buarque também dividiu tempo para concretizar carreira sólida também na Literatura e no Teatro. Escreveu os livros Fazenda Modelo, Chapeuzinho Amarelo, A Bordo Rui Barbosa, Estorvo (o primeiro romance), Benjamim, Budapeste e Leite derramado. No teatro, obras como Calabar, Gota d’água e Roda Viva – a primeira delas – rendeu-lhe grandes prêmios e o começo de problemas entre ele e a maior vilã de seu tempo; A repressão.
Em 1966, o artista tinha tido sua música ‘Tamandaré’ censurada sobre acusações de conter frases consideradas ofensivas ao patrono da Marinha, que na época estampava as notas de um cruzeiro. Mas Chico sentiu com maior intensidade o golpe em 1968, quando grupos anticomunistas invadiram o Teatro Galpão, em São Paulo, depredaram as instalações e agrediram os integrantes da montagem de Roda Viva. Depois da sequência dos fatos e da censura sobre outras canções, Chico Buarque se exila na Itália, onde dividiu moradia com o amigo Toquinho, e retorna ao Brasil somente em 1970.
Unindo experiência e histórias, Chico lança anos mais tarde, em 1993, o disco Paratodos, que possui a música homônima como carro-chefe do álbum. Na letra, ele faz sua pequena Biografia citando as origens de sua família e de inspiração musical no primeiro verso: O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano / Meu maestro soberano / Foi Antonio Brasileiro.
Chico Buarque cita Antonio Brasileiro se referindo ao maestro Tom Jobim como resultado natural de uma mescla regional de sua família.
Nos versos seguintes, o compositor atribui a Tom Jobim a inspiração para o seu trabalho e senso crítico.
Com muita leveza, Chico passeia por sua história repleta de alegrias, sucessos e dificuldades e traça de maneira bela uma espécie de ‘antídoto’ para a vida, fazendo uma homenagem a suas grandes inspirações e parceiros na música.
Recomenda contra fel e moléstia a tranqüilidade típica da Bahia de Dorival Caymmi até a agitação do paraibano Jackson do Pandeiro.
Com a calcada melodia em Ré maior, Chico de Hollanda continua a falar de sua vida: Vi cidades, vi dinheiro / Bandoleiros, vi hospícios / Moças feito passarinho / Avoando de edifícios / Fume Ari, cheire Vinícius / Beba Nelson Cavaquinho. Nesse trecho, ele faz uma referência às loucuras da vida e até do suicídio e volta apontar soluções como entorpecesse de Ari Barroso, Vinicius de Moraes e Nelson Cavaquinho.
Depois, ele aponta remédio para o preconceito usando Luiz Gonzaga e Pinxinguinha. E sua lista de homenageados vai crescendo com Noel Rosa, Cartola, Orestes Barbosa, João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil (os dois últimos seus amigos desde 1965).
Marcando presença na lista de soluções musicais de Chico Buarque, estão também Erasmo e Roberto Carlos, Jorge Ben, Hermeto Pascoal, Edu Lobo, Milton Nascimento, Nara Leão, Gal Costa, Maria Bethânia, Rita Lee (sobre esse nome há controvérsias, pois o jeito simples de falar somente Rita pode ser atribuída a jovem Maria Rita – filha de sua amiga Elis Regina) e Clara Nunes.
Quando a solução de boa música está pronta, Chico volta a relembrar suas origens e quem ele relata ser: Vou na estrada há muitos anos / Sou um artista brasileiro. E para quem acha que tudo se baseia numa convicta nostalgia, o poeta proclama: Evoé, jovens à vista.
O álbum de 12 faixas inclui canções guardadas até então como ‘Sobre Todas as Coisas’, feita para o balé O Grande Circo Místico, em 1982, composta com Edu Lobo e ‘Choro Bandido’ de 1985, fruto da mesma parceria.
Uma das características marcantes do disco é a sua capa – fruto de uma ideia de Chico que reuniu várias fotos de pessoas do cotidiano espalhadas nos dois lados do trabalho - para juntar as imagens ele colheu autorização com fotógrafos populares na feira nordestina de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio – no centro das imagens se destaca uma foto real de Chico Buarque sendo fichado na polícia em 1961 pelo roubo de um carro que usou para divertisse com amigos na noite paulistana. O resultado foi uma capa criativa e moderna, fazendo jus ao nome do disco.
O álbum teve uma bela produção de Luiz Cláudio Ramos e Vinicius França e direção artística Miguel Plopschi e ainda conta com a participação de grandes músicos, entre eles o maestro soberano Tom Jobim na música ‘Piano na Mangueira’ e Gal Costa em ‘Biscate’.
Paratodos é um daqueles discos que não podemos abrir mão de termos em casa, pois não é só um lindo trabalho, mas também marca as mudanças na vida de Chico Buarque em contraste vivido com a metamorfose do Brasil, refletidos em melodias bonitas e bem trabalhadas acompanhadas por letras nostálgicas necessárias para nós, como o próprio título diz.
Marcos Ferreira Silva