quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Os olhos

Para Sabrina da Cruz
Os olhos dela são grandes e ávidos. Dizem muito de quem é. Quando estão tristes ficam quietos, vidrados.
Esses lindos olhos, donos de um leve castanho escuro, quando nervosos, correm de um lado para o outro, tornando-se incapazes de fitar algo.
É a dona desses olhos vivos, que guarda mistérios e segredos, um verdadeiro passe de mágica que às vezes pouco diz, mas expressa muito com o inebriante jogo de suas íris.
A mulher encantadora que não gosta de falar de causos da própria vida também me põe à prova. Dizem-me que ama, mas espera que eu diga primeiro.
E desalinhando os cabelos com graciosa vontade de amar, pergunta-me se não vou deixá-la.
Interrogação de resposta óbvia ao estar diante dos lindos olhos que buscam estrelas, mas que já sabem dominar um coração.
Marcos Ferreira Silva

A simplicidade de quem sabe o que diz

Hoje, um bom tempo depois do fim das aulas, eu consegui pegar o meu diploma de Bacharel em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo. Um dia simbolicamente interessante, pois nos remete ao momento do vestibular, já meia década atrás. Mesmo que as piadas levem a crer que é melhor plastificar esse pedaço de papel e transformá-lo em um belo jogo americano para jantar.
Mas quando chego a minha mesa de trabalho, com o envelope nas mãos, sou informado com atraso que o mestre Joelmir Beting não está mais entre nós.
À noite assisto as inúmeras homenagens ao homem que sabia tão bem o que era o jornalismo. Conhecimento e experiências que eu gostaria de ter um dia. Descubro que do outro lado das notícias e comentários existiu um homem tido pelos amigos como honrado e bem humorado.
Palmeirense até o último segundo, ao contrário de mim – um nato corinthiano – nos deixou em um momento ruim de seu time de coração. Minha lembrança sempre trará o sujeito que sabia respeitar os rivais esportivos e fazia valer a verdadeira graça do esporte.
Sempre saberei que é o pai do sujeito palmeirense autêntico que melhor sobre refletir a alma de um corinthiano.
Vou lembrar sempre dos discursos econômicos leves e do que aprendi na faculdade com base na forma simples qual tratava um assunto tão difícil.
Lembrarei de seu legado de respeito e do grande profissional.
Dedico esse momento simbólico ao bom e velho Beting.
Marcos Ferreira Silva

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Carta aberta ao Kenosis


Nos últimos dias “eu vi o meu passado passar por mim”, como no verso de Hebert Vianna. Desde que os encontrei fiquei pensando em como seria bom ter tudo de volta.
Os céticos dizem e enfatizam que nada será como antes. As coisas mudam meu caro, as pessoas mudam, você muda. Eu penso: que bom!
Quando ouvi de meu amigo que ali, naquele grupo, estava o fator de mudança de nossas vidas, percebi, mais do que nunca, a importância de estarmos unidos. É impossível negar isso. A fase mais importante da nossa vida foi compartilhada por cada um de nós. Enquanto varávamos a noite fazendo o nosso som, vivíamos nossos conflitos, brigávamos por causa da nossa impulsividade juvenil.
Um bando de adolescentes que nem sabia o que era viver, acabaram por tomar para si uma responsabilidade de levar a mensagem de Deus para as pessoas. E como foi bom aprender as coisas da vida ao lado de vocês. Entre pizzas, pipocas e atrás de um pedaço de bolo, Deus se fazia presente. Aquela molecada que éramos riu muito de tudo, chorou unida e fez a coisa que mais gostava: música.
E não era apenas música. Vamos e convenhamos, era boa música. A cada nota, a cada acorde, a cada tom, nas divisões de vozes, nas improvisações se via nascer um celeiro de jovens talentos, na qual podíamos mergulhar e se perder no prazer imensurável do som que ofereceríamos aos outros.
Foram tantos aprendizados, tanta gente que cruzou nosso caminho. Não foram apenas pedras que encontramos, mas coisas boas também. Pessoas dispostas a nos ajudar a crescer como gente. Seria injusto citar nomes, mas em nossa memória está cada um deles. Com as broncas, os elogios, os conselhos. Tudo que nos ajudou a seguir em frente e querer mais.
Das tantas lições que aprendi com vocês, a mais importante foi saber que grandes amigos nunca se perdem. Nem com a distância geográfica, nem com o tempo, nem com as brigas. As verdadeiras amizades nunca acabam.
O fruto da nossa amizade é a força que carregamos. O filho de tudo isso é a nossa música que não pode silenciar.
Estamos em nossa essência novamente, voltando a ser o que sempre fomos, ou melhor, voltando a viver a nossa missão, aquilo guardado dentro de cada um de nós, que nunca morreu, apenas descansou para os olhos (ou ouvidos) dos outros, mas sempre soubemos que estava ali, intacto, pronto para voltar.
O que posso dizer a vocês, meus caríssimos amigos é: obrigado!
E vamos trabalhar para tomar o que sempre nos pertenceu!
"Eis que o inverno passou, cessaram e desapareceram as chuvas. Apareceram as flores na nossa terra, voltou o tempo das canções". Can 2, 11-12
Marcos Ferreira Silva

The Platters mostra que boa música tem vigor inesgotável


Em turnê pela América Latina, o lendário grupo de Los Angeles, nos Estados Unidos, passou pelo Brasil pela vigésima sétima vez e o Guitar Talks foi conferir o show.
Formado em 1953, o quarteto não possui nenhum dos integrantes originais. O líder B.J. Mitchell é o membro mais antigo do Platters e o único que trabalhou com os músicos da primeira formação.
A jovem soprano Ellie Marx é brasileira e integrou o grupo em maio de 2012. Muito recente para uma banda com quase 60 anos de carreira. O quarteto é completado pelas vozes de Ronn Howard e Kevin Carrol.
Analisando esses fatos, quem nunca assistiu a uma performance dos quatro vocais imagina um grupo sem identidade e estagnado em plena nostalgia. Mas o que pode ser notado na noite de 28 de setembro, quando o The Platters subiu ao palco do Alphaville Tênis Clube, foi outra coisa.
A energia do quarteto é fiel ao grupo original e as vozes são impecáveis. Quando Kevin Carrol entoa o clássico mais conhecido do conjunto, a plateia vibra de imediato. “Only you”, composta por Buck Ram e sucesso em 1955 na voz de Tony Williams, não perde a elegância e o romantismo quando é interpretada por Kevin Carrol e seus companheiros.
Outros clássicos das quase seis décadas de existência do The Platters são rememorados durante o show. Canções como “Smoke Gets in Your Eyes”, “Sixteen Tons” e “The Great Pretender”, conhecida por muitos na voz de Freddie Mercury, encantaram o público que vibrou durantes os 50 minutos de show.
A voz grave e performática do líder B.J. Mitchell é capaz de agradar os mais exigentes ouvidos. Seus passos de dança e a interação com o público costumam arrancar risos e deixar a plateia sem parar.
Nenhum dos integrantes deixa a qualidade das vozes cair. Ronn Howard passeia pelos tons com calma, segurando bases para qualquer interpretação, mas também encanta quando assume a dianteira em algumas músicas. A sintonia vocal faz algumas vezes o show parecer um playback, graças à qualidade do conjunto.
Ellie Marx prova que tem méritos para compor o grupo, mas, ao lado do trio masculino, o formato do show não privilegia sua voz, deixando ela apenas compondo o coro, mas com pouco destaque em solos.
Ir a um show do The Platters esperando um repertório novo ou versões com estilo atual é um erro. A apresentação do grupo americano é calcada na nostalgia e no charme romântico e dançante do R&B, com a mesma classe de mais de meio século atrás.
The Platters não arrisca no palco, seguem os mesmos passinhos e canções que marcaram sua carreira, mas sem perder a qualidade que o elegeu como um dos melhores grupos vocais da história.
Marcos Ferreira Silva
Foto: Crysthian Gonçalves

A volta da Rádio Rock São Paulo


Seis anos após uma radical mudança na programação da emissora de rádio 89 FM, conhecida durante anos como a rádio rock, o canal voltou a mostrar sinais de que pode retornar à sua essência.
No último sábado, dia 27, às 10h, a transmissão da 89.1 MHz de São Paulo foi baseada na velha fórmula da rádio. As vinhetas e a nostálgica apresentação do locutor Tatola remetia aos áureos tempos da estação.
Quem sintonizou a 89 das 10h às 14h e das 19h às 22h do sábado, teve a sensação de voltar ao passado. Com clássicos do rock das décadas de 60 a 2000, os anos 80 e 90 ficaram em evidência, marca da emissora desde sua fundação em dezembro de 1985 até o fim de maio de 2006.
No domingo, dia 28, a emissora também esteve no ar com o antigo formato em dois horários, diminuindo apenas no período noturno para das 19h às 21h.
O site www.radiorock.com.br transmite desde o dia 27 uma programação completa dedicada ao antigo formato. A página na internet não tem nenhuma ligação ao site atual da rádio, inteiramente voltada à música pop, dance music, black e outros gêneros.
A página da rádio rock no Facebook, até o fim dessa edição, já acumulava quase 29 mil ‘curtidas’. No fim de semana em que o rock entrou novamente na programação da 89.1 MHz, a notícia se espalhou pelas redes sociais numa torcida nunca antes vista para o retorno de uma programação radiofônica.
Rumores de que a programação focada no rock ainda não está inteiramente na emissora devido a contratos publicitários é motivada por chamadas durante o tempo em que o locutor Tatola esteve à frente das 9 horas de espaço que o ritmo teve no último fim de semana.
O site da Rádio Rock também faz menção com o slogan “Estamos trabalhando pesado para trazer a sua rádio de volta”. Nos intervalos das músicas também é citado que a Rádio 89 está voltando, sem dizer ao certo se o espaço na emissora será preenchido por completo ou se apenas a rádio online ficará disponível aos ouvintes.
Antes dos últimos acontecimentos era dada como certo a venda da atual rádio 89 FM, devido problemas em conseguir anunciantes. Após o ano de 2011 com turbulências internas e até a migração da emissora para uma rádio customizada pela marca Fast, em 2012, notícias sobre a venda do espaço para um grupo evangélico era vista como fato consumado.
Até momento nenhum representante da 89 se pronunciou oficialmente.
A volta do Rock aos meios de comunicação
Muito se fala sobre a decadência do rock. Nos grandes veículos de comunicação, apenas Boys Bands carregam o nome do ritmo, indignando os apreciadores do universo rockeiro.
Enfatizamos que o rock é um ritmo de grandes dimensões e que atinge desde bandas alternativas, grupos com sons mais pesados, até grandes baladas e bandas conhecidas no mundo inteiro.
No Brasil, o 'funk pancadão' ganhou milhões de adeptos nos últimos anos. Carregando um ritmo repetitivo e letras cheias de orgias, muitas com apologias ao crime e depreciação da imagem da mulher na sociedade, com altas doses de palavrões e gírias sexuais.
Crianças e jovens cada vez mais aderem ao ritmo com zero de conteúdo intelectual. A volta da 89 a Rádio Rock, surge na grande mídia não só para agradar os velhos adeptos, que em sua maioria nunca abandonou a predileção pelo estilo, mas também para ser uma nova opção aos jovens que não conhecem esse tal de rock’ n Roll.
Marcos Ferreira Silva

domingo, 14 de outubro de 2012

Seu amor, o nosso amor

Para Sabrina da Cruz
Por qual razão não dizer? Afinal, nosso amor é maior, talvez repita o que disse o poeta sertanejo ao recitar “nosso amor é ouro, jóia rara de se ver”.
E como os diamantes, tão difíceis de serem encontrados em meio às pedras sem nenhum valor, nossa história é, dentre tantas, uma das poucas a ter brilho mesmo sobre machadadas e um infinito de outras coisas descartáveis.
Como rubis, que naturais são lindos e imperfeitos, assim somos nós. Diferente da Safira, nosso amor é vermelho como sangue e vibrante como o fogo. Somos lapidados com difícil destreza, mas movido por uma afirmativa que não tem explicação.
Conclusões assim, eu tiro de um tempo não muito distante. Época em que apenas uma conversa descompromissada varava horas. O gosto de quero mais que, nem sei por que, movia o desejo de olhar, de ter por perto.
Até que um dia fitei seus olhos de maneira qual nunca havia parado para notar. Os opostos se distraem, os dispostos se atraem. Assim estávamos. Vulneráveis ao sentimento. Ainda bem. Algo falou mais alto. Disse num semitom: eis aqui o que não sabe que procura.
Da magia a sedução, o que passou a valer foi o itinerário. Não bastando o destino, mas o percorrer do caminho.
Estava eu, aficionado pelos sonhos distantes e você, imersa na realidade da vida. Depois alternamos. Não era aventura, é amor. Não é ontem é hoje.
Das coisas queria dizer que é amor. O que é esse sentimento correndo na veia? Não demorei a entender de onde vinha. Quando o coração acelerou desconfiei, mas foi quando ele apertou em angústia que tive certeza.
Até mesmo achei que poderia ser fácil se desligar, mas descobri ser impossível se desvencilhar. Você já estava em mim e sei que eu estou em você. Desde aquele dia no portão, do beijo doce e roubado. Difícil saber quem era o criminoso e quem era a vítima.
Mesmo sob brigas e lágrimas, sempre foi evidente um sentimento maior. Uma pedra sendo lapidada, à base de marteladas. Do sofrimento de tantas batidas e feridas, a joia se molda.
Tudo o que não apaga o brilho, mas aumenta o valor.
Talvez mais que Rubi, meu amor por você é ouro.
Te amo!
Marcos Ferreira Silva

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Gerações em conflito

Atualmente em palestras, cursos, reuniões e temidas entrevistas de trabalho, muito se fala nas tais gerações de profissionais. X, Y, Z e todo um alfabeto que nos espera para entender quem é quem no mercado de trabalho.
Foi-se o tempo daquele profissional que trabalhava incansavelmente para sustentar a família, enquanto sonhava com o distante dia da alforria, intitulada de aposentadoria.
Depois vieram os trabalhadores movidos pela ascensão do cargo almejado. A meritocracia que podia trazer lucros e estabilidade.
Cada um em seu devido tempo e com as suas ideologias. Isso até aparecer uma galera nova, que veio perpetuar o que todo mundo queria: fazer o que ama.
Nem melhores, nem piores, o fato é que essa geração ainda não é entendida por algumas instituições, mas ganha seu espaço dentro e fora das empresas.
Negócios próprios, caminhos diferentes para obter o que deseja. Ou melhor, estilos diferentes visando à satisfação não para amanhã, mas para hoje.
Afinal, trabalhamos para viver, o que é o oposto de viver para trabalhar.
Essa ‘embromação’ toda é para indicar a todos que assistam ao vídeo abaixo.
Reflita e descubra se você faz o que realmente ama.
Afinal, arriscar pode valer muito apena.

Marcos Ferreira Silva

Hebe e seus eternos amigos

O falecimento da primeira dama da TV Brasileira pegou todos de surpresa. Mesmo doente, no alto de seus 83 anos, isso não fazia da apresentadora um ser vulnerável e nem habitante dos mórbidos pensamentos da morte, pois suas palavras de ânimo e fé lhe davam um ar de eterna. Mas nada é para sempre.
Hebe nos deixou, mas mesmo após a passagem foi novamente pioneira. Quebrou os paradigmas das emissoras de TV – baseados nos tais contratos de exclusividade. Lá estava a loira no seu querido SBT, na sua errada RedeTV, nas adversas Record, Band e Gazeta. Além da orgulhosa Rede Globo.
Em meio às emocionantes homenagens dos principais canais de TV do país, todos queriam falar da Dama do Sofá. Eram relatos verdadeiros, quebras de pautas reais e, em nenhum momento – como de costume – notei o triste teatro pela audiência. Estavam todos querendo contar um pouco daquela história e falar da honra de ter tido tantas vezes na telinha a pessoa Hebe Camargo.
Famosos se aglutinavam nos telefonemas transmitidos ao vivo. Sem hipocrisia, mas sim tristes pela despedida. Ronnie Von, Lolita Rodrigues, Jô Soares, Carlos Alberto de Nóbrega, Serginho Groisman, Celso Portiolli e tantos outros. No velório, as fotos em todos os sites de notícias mostravam figuras reservadas saindo de seus mundos para a despedida.
Roberto Carlos e Silvio Santos, sem dúvidas, eram os mais aguardados. Mas estava lá também uma multidão da classe artística que não precisa de mídia para se promover. Marcavam presença por causa da inspiração que se ia, da amiga qual tinham de dizer adeus. Ou até mais!
Depois os populares surgiram com declarações de amor para a matriarca do bom papo, além de histórias inusitadas e de solidariedade. Cada um tinha algo para dizer sobre Hebe. Mas o que soava é que a mulher era mais forte que a estrela.
Uma semana depois, sua missa de sétimo dia contava com a presença de nomes como Roberto Justus, Xuxa, o duvidoso Paulo Maluf, Ivete Sangalo Adriane Galisteu, novamente Roberto Carlos e Agnaldo Rayol. Era uma gente que chorava, alguns até soluçavam. Nomes que não precisam de mais mídia, nem acalorar tragédias para aparecer. Sofriam pela amiga, somente.
Hebe parecia ser para sempre. Seu legado para a cultura brasileira ficará marcado pelos livros que ainda serão escritos e por ‘revivals’ televisivos. Mas, certo mesmo, é que a rainha não deixou súditos, mas amigos que serão eternos.
Veja uma linda homenagem feita pelo programa Comédia MTV – que tinha em um de seus principais quadros uma esquete sobre a apresentadora.

Marcos Ferreira Silva

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Apaziguar


A conversa era insossa. Ninguém sabia no que aquilo, afinal, ia dar. A voz embriagada de sono de um lado duelava com o tom triste de decepção do outro.
O tempo parecia ter passado rápido demais. As coisas ao redor davam a sensação de atrapalhar a vida que insistia em tomar sentido naquela relação.
As palavras vorazes doíam um pouco, mas elas pareciam soltas em meio à enxurrada de sentimentos que misturavam frustração, medo, conhecimento do outro e tudo de muito mais.
A vontade era trocar tudo por uma farta caneca de café bem forte. Jazz ou blues... talvez não, melhor um disco de baladas antigo, preferencialmente um vinil com a agulha limpa deslizando pelo LP. Era melhor delirar ouvindo o leve chiado ao fundo da canção do que se martirizar ouvindo palavras mordazes.
Duras, nuas e cruas palavras de descontentamento pelo amor. Esse sentimento sem dúvida presente, mas exausto pelas dúvidas.
Coisas criadas com tantas certezas e convicções. Cada um ali sabia quem era e o que queriam, mas juntar essas peças todas era coisa por demais difícil.
A química evidente perdia partes importantes da fórmula quando uma simplória bobagem (assim mesmo, redundante) tomava conta do diálogo.
Talvez fosse melhor manter o silêncio e esperar tudo ficar bem... 
Marcos Ferreira Silva

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Palavras, são só palavras

Não me cobre. Não me peça. Nem sequer espere. Deixe-me viver, deixe sentir. Faça um meio de eu te querer.
Seja leve, livre e sensual. Seja simples, calma e sincera. Não seja só o que eu quero, só não seja fechada para as coisas do mundo. Seja para si que será bom para mim.
Não deixe que eu te esqueça.
Não viva por mim, viva comigo. Não brigue nem amanse; ouça. Não vá embora, vá comigo.
Não se submeta, não espera as cartas na mesa. Diga o que sente e diga o que quer. Para onde quer ir, com quem quer ir. Tenha o prazer de dividir.
Ria e chore comigo. Fique em silêncio. Fale baixo, fale alto, outras horas apenas responda ou apenas diga sem esperar respostas literárias.
Não retruque, converse. A conversa é o maior dom que Deus presenteou o ser humano. Case-se com alguém que goste de conversar. É o que fará durante a maior parte de sua vida.
Viva o seu corpo, a sua felicidade. O seu bem estar. A sua beleza e a sua vaidade. A sua saúde. És o que come! És o que sonha.
Não xingue, não se tortura. Pense e fale. Não magoe. Guarde o que foi bom. Esqueça o que foi ruim. Me ensine isso. Se não for possível; administre.
De vivas a maturidade e se sinta jovem sempre! 
Saiba servir e ser servida. O prazer pode estar em tudo. Curta e compartilhe. 
Sorria quando é tempo de sorrir. Chore quando é tempo de chorar. Fique séria quando é necessário. Não que isso seja ruim, é natural e pode ser bom. Seja boba, alegre-se, mas saiba quando.
E viva!
Marcos Ferreira Silva

sábado, 30 de junho de 2012

Tedect apresenta aos fãs dois singles e covers renovados


Banda estreia em EP com duas faixas inéditas
A banda paulistana Tedect lança cinco músicas ainda no mês de julho. O primeiro trabalho produzido em estúdio pelo grupo conta com três covers e duas faixas inéditas.
Entre as versões trabalhadas pelo quinteto está uma regravação do clássico ‘Losing my Religion’, do R.E.M., de 1991. Na interpretação do Tedect, a música composta por Michael Stipe ganhou uma introdução acústica e um riff de guitarra acompanhado de um ritmo forte imposto pela bateria assinada por Bruno Mazetti. Sem descaracterizar a melodia original, um arpejo de violão, feito pelo guitarrista Marcos Ferri, dita a base da música.
Outra versão da banda é ‘My Immortal’, famosa canção do Evanescence, lançada em 2003. A composição do ex-guitarrista da banda, Ben Moody, com co-autoria de Amy Lee, foi minuciosamente interpretada pela banda, sendo uma versão fiel à canção original. Destaque para a performance da vocalista Claudinha Cajado e os teclados de Bruno, que também é responsável por esse instrumento.
Sucesso nos anos 90, a mais inusitada canção do trabalho de estreia do Tedect é o cover de ‘Palpite’, da cantora Vanessa Rangel. A música foi trilha da novela Por Amor, de 1998 (Rede Globo). Nessa regravação, a música da cantora carioca ganhou um tom mais rock, sem deixar de lado a sua essência de balada sacana. A guitarra de Carlos Till e o violão de Marcos Ferri foram responsáveis por novos arranjos marcantes, sem deixar de lado detalhes que rememoram a música original.
A versatilidade da banda fica evidente nas duas faixas inéditas. ‘Vejo a noite chegar’, composta pelo ex-guitarrista do grupo, Rudy Mazetti, é praticamente uma serenata de amor. A música nasceu com esse intuito e sem pretensão de fazer parte do repertório do grupo. Na gravação, os teclados contrastam com uma melodia leve e um tradicional solo de guitarra que gruda no ouvido, além de um refrão pop ainda mais chiclete.
Em ‘Apenas uma chance’, as guitarras tomam conta, mas quem se torna notável é a linha de baixo. Baixista e autor da letra, Weber Moraes trabalha as notas de um jeito que quem ouve não consegue ficar parado. A bateria tribal e as guitarras pesadas caracterizam o tom revoltado da letra de amor.
Os vocais de Claudinha Cajado se encaixam na melodia de cada música, mostrando que a promessa de uma grande cantora já é realidade.
Produzido por Raul Bianchi e Marcelo Perestrelo, o trabalho de estreia do Tedect mostra ao público que a banda sabe a que veio. 
Em breve as novidades e as músicas estarão no site e no novo blog da banda
Marcos Ferreira Silva

domingo, 3 de junho de 2012

Legião Urbana a tudo vence

"Urbana Legio Omnia Vincit"... é, Renato, você tinha razão...
Eu pensei diversas vezes em escrever algo sobre o tão falado tributo à Legião Urbana. Ouvi muitas críticas e elogios sobre o show. Ouvi detonações sobre a voz de Wagner Moura e preferi me calar. Mas nos últimos dias muitíssimas pessoas me paravam para perguntar o que eu achava disso tudo. Me consultavam como se eu fosse um guru, um sábio especialista no assunto Legião Urbana.
“Enfim, eu não sou tudo isso. Não vou falar”. Essa frase foi tão Renato Russo, eu sei. Doce ilusão minha. Olhei a pilha com toda a discografia do grupo de Brasília organizada em ordem cronológica em minha estante. E eu sempre pronto pra contar uma história de uma ou outra música, alguma curiosidade de um disco e a explicação de tantas letras. Percebi que precisava falar.
Não achei um show perfeito. O ator e cantor Wagner Moura não é um interprete perfeito, mas é um fã perfeito. Ver Wagner no palco é emocionante. A vibração que ele conseguiu passar nas duas noites de festa no Espaço das Américas em São Paulo é de invejar um beatle.
A emoção foi o lema das apresentações nas quais Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá se reencontraram com o público carente da poesia que não morreu com o corpo de Renato Russo em 1996, mas que estavam guardadas no coração dos fãs e nas pilhas de discos.
A Legião Urbana não voltou como muitos falavam. A proposta estava escancarada para todos, nada foi escondido, aquilo era um tributo, uma justa homenagem a uma das maiores bandas do planeta.
Sei que nesse momento muitos estão se roendo e me taxando de nostálgico. A Legião não é uma unanimidade, pois toda unanimidade é burra, e a Legião pode ser tudo, menos burra. Respeito quem não gosta de Legião Urbana, mas não esperem mais do que isso de mim.
As canções entoadas por um Wagner Moura eufórico fazem parte de um repertório especial para cada uma das mais de 8 mil pessoas que marcaram presença no show e todos que estavam em casa assistindo o show de suas vidas.
Não só as letras geniais de Renato marcaram a vida dessas tantas pessoas, mas todos os arranjos das músicas são a trilha de muitas pessoas que encontraram naquelas canções algo a se apoiar em alguns (ou em vários) momentos da vida.
A batida marcada de Bonfá bate no ritmo do coração dolorido preso ao peito, a guitarra de dado soa chorosa nos ouvidos de todos que ouvem a voz grave de Renato falando pra si mesmo.
No papel de homenagear a Legião Urbana e Renato Russo, Wagner Moura foi sublime. Se portou como um verdadeiro mestre de cerimônia e conduziu fãs ensandecidos a celebrar as canções que estavam presas na garganta e que já ganharam tantas versões em vozes desconhecidas, em milhões e milhões de lares Brasil à fora.
Eu poderia perder o meu tempo dizendo que o capitão Wagner passou duas horas viajando entre erros e acertos vocais, desafinando e semitonando as músicas, mas prefiro lembrar que, em cima daquele palco, o artista de renome emocionou com sua interpretação voraz.
Todos sabiam que o que estavam vendo era apenas um resquício do que foi a Legião Urbana, mas o que valia mesmo era lembrar o que aquelas músicas tinham feito na vida dos fãs.
Estava provado por A mais B que a Legião a tudo vence. A Legião Urbana é o povo que se apoderou de cada acorde, cada nota das tantas músicas que são trilhas de vidas loucas e simples em todos os cantos do mundo.
Num show em que Dado e Bonfá subiram ao palco para relembrar uma vida ao lado da legião de fãs, Wagner Moura só poderia transformar tudo isso em um acontecimento cinematográfico. Errado isso? Não. Foi o próprio Renato que certa vez disse: “Vamos fazer um filme”. Está feito e registrado na mente e no coração de muita gente.
“Se vocês acreditam numa coisa de coração e se vocês sabem que é uma coisa importante pra vocês e sabem que não vai machucar ninguém, vão em frente e façam...” Renato Russo...

Marcos Ferreira Silva

domingo, 27 de maio de 2012

A pegada da MPB

Pode até ser uma injuria, calúnia ou até mesmo uma infame difamação, mas faz sentido. Do nosso grande colaborador, o Autor Desconhecido, segue para os devidos risos:
Realmente é uma festa; BETHANIA pegou GAL, que pegou MARINA, que pegou CÁSSIA ELLER, que pegou ZÉLIA DUNCAN, que pegou CALCANHOTO, que pegou ANA CAROLINA, essa que foi pega pela JOANA, que foi pega pela SIMONE, que pegou ZIZI POSSI, que é mãe da LUIZA POSSI, que pegou MARIA GADÚ, que foi pega pela ÂNGELA RO RO, que tá de olho na XUXA, que já pegou a SANGALO... A BABY do BRASIL pegou a Bíblia e a RITA LEE pegou gripe, não participou do show, mas mandou um recado: DEUS ME LIVRE E GUARDE DE VOCÊ!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Uma noite no hospital

Escrevo este cansado texto à bordo de uma indigesta cadeira de ferro com um estofado que imita um couro, mas que se dissipou há muitos anos. Estou no tradicional hospital Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na Santa Cecília, parte badalada do centro velho.
A região é a verdadeira encruzilhada entre a riqueza de jovens médicos bebendo noite à dentro e prédios da linda Higienópolis que contrastam com os refugiados da Cracolândia, pobres viciados que foram expulsos de seu habitat como ratos, sendo obrigados a se acomodarem nos bairros vizinhos, nas portas de padarias ou nas escadarias da igreja.
Enquanto a noite de sexta-feira rola lá fora, papai está a se remexer sobre a desconfortável cama do leito 201. Uma sonda, um aparelho para colher líquidos das narinas, uma máscara de oxigênio, um tubo no abdome e um corte de dois palmos e meio na barriga.
Depois de uma cirurgia de hérnia, uma hemorragia e uma úlcera desconhecida, o homem forte repousa sem conforto algum, sem o direito de comer ou beber, apenas com um líquido estranho que cai na veia de minuto em minuto. A enfermeira disse que não é soro, mas para mim é, pois faz as vezes da aguinha com açúcar que engorda as mãos.
O nosso homem de ferro alagoano não se rendeu à guerra. Com a ajuda de Deus, de todo o exército celestial e de bons médicos e enfermeiros, o ‘velho’ saiu da UTI e ganhou o seu indulto.
Opa! Paro de reclamar um pouco. Me trouxeram uma cadeira estofada e que inclina (coisa fina). Agora escrevo sentado sobre uma cadeira bege de estofado ainda vivo.
Um dos pacientes que divide o quarto se enrola com uma banco. É quase uma da manhã e ele bate ferro com ferro, tentando se movimentar com os tubos presos ao braço. Outro, de pescoço furado por causa de uma tireóide, não fala e parece dormir, esfregando o rosto cansado e maltratado.
O da ponta, depois de reclamar do jejum, agora dorme calmamente. Zé Roberto, o travesti Sabryna (assim está escrito em sua prancheta) sumiu no meio da noite. Passa da uma da manhã, e mesmo sem sentir as dores, me sinto meio que o Marcelo Rubens Paiva em “Feliz Ano Velho”.
Rotina, sofrimento em silêncio. O paciente do banco agora está sentado à beira da cama com sua bolsinha de sangue presa na cintura. Pelo menos ele pode sentar, papai só fica deitado por ordens médicas (e mesmo se quisesse não conseguiria). Apagaram a luz do corredor, mas o balcão da enfermagem, exatamente de frente ao quarto, permanece aceso. Sono de passarinho nos leitos da Santa Casa.
Papai pede para inclinar a cama, o sujeito da bolsinha de sangue dorme de barriga para cima, o da Tireóide acorda e Levanta para fuçar a sua torneira de oxigênio, numa angustia de querer falar e não poder, ele vai atrás de enfermeiras.
O do jejum levanta, come e mija (como ele mesmo diz) e volta a dormir. Zé Sabryna ressurge e deita em sua cama. Parece preocupado com a cirurgia que logo acontecerá. Dorme pesado e ronca. Coisa de macho!
Sons das bombas de ar e motores da lavanderia poluem o ambiente auditivo. Enquanto isso há quem reclame porque teve de ficar em casa nessa sexta. E murmura indignado ao dizer que tem um problemão.
Enfim, papai cochilou pontualmente a uma e meia da manhã, mas logo acordou com dores.

Marcos Ferreira Silva

sábado, 14 de abril de 2012

Há um bar que toca rock aqui

Recentemente, ao tentar pegar no sono, fui felizmente surpreendido. Ao colocar a cabeça no travesseiro, às zero hora de uma sexta para sábado, ouvi ecoar pelas ruínas da minha querida, porém esquecida cidade de Carapicuíba, um som que, infelizmente não é muito comum de se ouvir nitidamente por essas bandas. Era rock, bebê.
Nos meus 24 anos de vida me acostumei a ouvir e tocar o meu ritmo preferido às escondidas. Meio criminalizado pelo pagode de meados dos anos 90, do forró universitário do começo dessa década, pelo sertanejo moderninho. E fui quase destruído pelo pancadão mal educado dos tempos recentes.
Nenhum preconceito musical, juro (tirando esse protótipo de funk com humilhações a mulher e apologia às drogas e ao crime). Mas ouvir um rock n roll e uma MPB vinda das ruas não é todo dia.
Renato Russo e Raul Seixas sorriram naquela sexta-feira 13 – que dessa vez não foi de toda ruim. Estava ouvindo Bread, Biquini Cavadão, Barão e Legião. Não muito alto, mas ao ponto para agarrar no sono com qualidade.
Não sou radical, até gosto de curtir muita coisa que hoje, mas acho que merecemos ter um bom rock rondando por aí. Não é todo dia.
Fui dormir feliz, sabendo que o rock não acabou!
Amém


Marcos Ferreira Silva

Homens gostam de mulheres que se amam

Homem que é homem não gosta de mulher submissa, mulher que não se valoriza. Nessa hora, provavelmente, estou dando um nó em sua cabeça. “Moralista liberal se perde em texto confuso” – é quase uma manchete da ‘isenta’ Folha de São Paulo.
Mas o fato é esse mesmo. Homem que é homem (já enfatizava assim Luis Fernando Veríssimo, o nosso poeta do humor) gosta de mulher que gosta mais dela mesma do que gosta de você. Todo homem é tarado por um narizinho empinado.
A mulher que chega ao bar com o olhar de que não precisa de você, que ama mais a sua bolsa do que a sua companhia. Esnobe? Algumas vezes. Independente? Com certeza.
Muitas vezes a mulher não precisa de tudo isso para ser única. Ela tem de que gostar de ser mulher e donzela. De amar o corpo, o seu próprio cheiro. Cuidar-se para si mesma e não para o parasita que lhe acompanha. Fazer isso já agrada e muito o sujeito macho que se perde na beleza da guria.
Não basta ser mulher, tem de ser feminina. Todos os dias vejo no ônibus expoentes de fêmeas que se esqueceram da doçura de ser mulher. São autoritárias, falam alto, desalinhadas e muitas vezes trocam o perfume pelo odor, e ainda declaram-se amantes amorosas.
Fico pensando: será machismo meu querer a mulher como descreve a música do Juca Chaves? “De dia uma menina, de noite uma mulher”! Sinceramente eu não sei.
O que sei é que amar mulheres que se amam é mais gostoso!

Marcos Ferreira Silva

terça-feira, 3 de abril de 2012

Fotógrafa que nasceu cega registra em blog uma imagem por dia

A fotógrafa americana Amy Hildebrand nasceu cega por causa do albinismo. Na infância e na adolescência, ela passou por tratamentos médicos e passou a enxergar algumas cores, formas e sombras. Apesar das limitações de sua visão, Amy optou por se graduar em fotografia.
Em 2009, a fotógrafa iniciou um projeto de publicar mil fotos em mil dias no blog With Little Sound. A cada 30 dias, ela escreve um pequeno texto no site.
"Eu quero me refletir como uma só pessoa; alguém que vai crescer, ter filhos, envelhecer e morrer. Nem todos os meus dias serão bons, nem todas as minhas fotos serão boas, mas elas irão me refletir", Amy escreveu em um dos textos do blog.
"Para mim, o período mais dificil de fotografar foi quando meu padastro foi diagnosticado com câncer terminal. Mas, depois de sua morte, tentei ser o mais positiva possível", disse à BBC Brasil.
Fonte: UOL

domingo, 25 de março de 2012

Ainda ontem

2012 é um ano de notícias difíceis... Adeus João Mineiro...
João Mineiro e Marciano formavam uma dupla sensacional. Com meu pouco conhecimento do assunto, acho que foram eles que criaram o gênero sertanejo romântico que conhecemos atualmente. Não existia esse “ai se eu te pego” todo que existe hoje. Era tudo puramente apaixonado, dolorido, de fazer corações sangrarem. Nesta semana perdemos o mestre Chico Anysio. Silenciou o humor e calou-se o romantismo.
Hoje, dia 25, o meu pai, o bom e velho seu Bené, faz seus grandiosos 69 anos, proclamando suas típicas frases: “Parece que foi ontem”... Ainda ontem chorei de saudade...
O velho merecia um aniversário mais legal, e não dando adeus aos ídolos bons que se vão como o verão... aos poucos, mas vão...
Essa é pra quem cresceu ouvindo essas canções no toca discos do pai e aprendeu a respeitar os poetas populares... Eu cresci assim...
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Marcos Ferreira Silva

sexta-feira, 16 de março de 2012

O cinza bem vindo!

Hoje foi um dia cinzento em São Paulo. Nuvens pesadas não deixaram a terra da garoa nenhum instante. Aposto que muita gente reclamou, mas sei também que muitos outros deram o braço a torcer. No íntimo, agradeceram a temperatura mais amena no fim de um verão fervente.
A garoa constante ainda brigava com o tempo abafado de veraneio, mas servia para anunciar que o outono já está com o pé na porta.
Para os próximos seis meses fica a promessa de temperaturas baixas. Desde um modesto ventinho até o congelamento dos dias de julho com os termômetros na ponta sul.
Agora começa o tempo da elegância, do capuz, tocas, luvas, casacos. É tempo de namoro agarradinho, de romance dia inteiro, cinema à noite e sonos amorosos ao calor amado.
Nada mais cafona que o outono e inverno para reacender os corações gelados. Aqueles que não amam sentirão falta de um cobertor para cobrir seus pés. Hão de dar pela falta de alguém para acalentar no sofá da sala.
Agora os que amam poderão aproveitar a estação das graças que unem as pessoas em busca de calor. O melancólico cinza das ruas e as folhas secas mortas nas calçadas de árvores nuas serão só um belo cenário.
É hora de aproveitar para amar.
Marcos Ferreira Silva

quinta-feira, 15 de março de 2012

Retomada

O ano de 2012 começou uma loucura só, mas é com prazer que anúncio, neste pequeno post, a retomada de um importante projeto em minha vida.
Em um dia conturbado com correria em hospitais com meu pai, cobertura de evento político e empresarial, uma dor nas costas horrível e em meio ao agradável, mas turbulento processo de gravação da banda Tedect, retomo a digitalização do meu romance “A Linha do Trem”.
Em breve os leitores irão poder viajar pelas histórias que até o momento só conto para amigos. Despejando-se por inteiro nas páginas e nos trilhos dessa ficção, espero vocês na estação terminal!
Segue um trecho:
O APITO DO TREM ERA OUVIDO DE MUITO LONGE. A locomotiva seguia pelos trilhos, floresta a dentro. O manto negro da noite cobria o céu e uma fina garoa molhava as plantas do jardim da casa. No quarto, arrumado e com o leve perfume de colonia feminina, está aquela senhora sentada na ponta da cama. Ela mantinha seus olhos numa pilha de cartelas de comprimidos e frascos de remédio tarja preta esquecidos numa velha cômoda em mogno. Vestígios de uma depressão que, graças a Deus, se perdera no tempo. Iam todos para o lixo. O problema foi expulso daquela casa e aquilo tudo, finalmente, havia acabado.

Marcos Ferreira Silva

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Doente do quê?

Ilustração - Denis Freitas
Essa crônica é um oferecimento de eu mesmo para mim mesmo. Pois é. Às vezes tenho a total certeza de que não sou o sujeito mais normal da face da Terra.
Em época de fim de Carnaval, meu ânimo continua lá embaixo. Sou ruim da cabeça e doente do pé. Não gosto da festa do samba. Não odeio o samba, apenas não sou um dos tantos fãs. Isso para a maioria é crime. Não sou radical, apenas não gosto das comemorações.
Sou ciumento ao estilo anos vinte. Temendo perder o broto na multidão. Enciúmo dos amigos e dos papos despretensiosos no portão de casa. Quadrado para muitos, mas são apenas ciúmes.
Ciúmes! Boa! Ponto interessante para mudar todo o enredo deste humilde texto. Ciúme é algo que todos podem ter de você, mas você não pode ter de ninguém.
Sua garota tem ciúmes de você (garota? – que jargão mais quadrado!) com os seus amigos, com seus pais e com todos os membros de sua família, com as amigas dela, com os colegas e principalmente com as colegas de trabalho, com toda a rede do Facebook e acho com todos do planeta.
Claro, nunca admitido. Mas ouse eu, pobre macho Ômega (o Alfa não te pertence mais – que fique bem claro) ter ciúmes dela com o carinha que lhe presenteia com chocolates? Possessivo.
Daí, eu em pura neurose começo mesmo a ser possessivo. Ciúmes até da sombra sem maldade (péssimo trocadilho). Aí eu me pergunto: Quem és tu, triste autor desse texto? Ciumento, não gosta de Carnaval nem de calor, não curte comemorar o próprio aniversário, não entende bem o Twitter, odeia funk, gosta de ficar em casa, ama o inverno e deseja o poder de exterminar o BBB?
Respondo: um doente do mundo esperando doses de normalidade e sensatez... começando por mim...
Marcos Ferreira Silva

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Aqui, agora, de todo coração

Esse texto não é meu, mas peguei emprestado por ser um relato sincero aos sentimentos.
Como fazer a escolha mais delicada da sua vida?
Escolher é difícil. Pergunte a um psicólogo e ele vai explicar por que gente obrigada a optar entre uma coisa e outra – qualquer que sejam essas coisas – sente ansiedade. Isso acontece em lojas de sapato, em restaurantes, na porta do cinema e até no sexo. Uma amiga me contou outro dia como foi estar numa festa e ter dois homens sedutores dando em cima dela. “Tive de escolher um deles, mas com um aperto no coração”, ela me disse. No dia seguinte, o bonitão que ela escolheu caiu no vácuo e nunca mais deu notícias. Escolher, ela aprendeu, é abrir mão de alguma outra coisa - e as consequências podem ser irreversíveis.
Infelizmente para nós, nem todas as escolhas são tão simples quanto a do sexo na balada. Penso na escolha mais delicada que a gente faz na vida, aquela que envolve os parceiros de longo prazo. Em que momento concluímos que uma pessoa deixou de ser apenas item de prazer ou fonte de encantamento e se tornou a criatura com quem vamos dividir a vida? Pode ser casando, comprando apartamento e tendo filhos, ou, de forma menos ritualizada, pondo os sentimentos e necessidades dela no centro da nossa vida, mesmo vivendo em casas separadas. O compromisso é parecido, assim como os caminhos que levam a ele.
A primeira coisa que conta nas grandes escolhas – eu acho - é a permanência. Ninguém tem direito a reivindicar um posto dessa importância sem ter ralado um tanto. Não adianta a Fulana decidir, em 30 dias, que vai ser sua mulher para o resto da sua vida. Não funciona assim. O teste do tempo é fundamental. Se aquela mulher ou aquele sujeito continua lá depois de todas as discussões e inevitáveis desencontros, se ela ou ele resolveu ficar depois de todas as chances de ir embora, se os seus sentimentos em relação a ele ou ela continuam vivos, um bom motivo há de haver. 
É essencial, também, que a experiência de convívio seja boa. Amores tumultuados dão bons filmes e péssimas vidas. É essencial acordar no sábado e ter vontade de ficar mais tempo na cama, enrolado naquele ser ao seu lado. Se a conversa antes de dormir deixou de ser gostosa ou se qualquer programa parece mais interessante do que a companhia dela ou dele, para que insistir? O prazer que o outro proporciona é essencial. Prazer de transar, prazer de olhar, prazer de ouvir, prazer de simplesmente estar. Se você caminha pela rua com ela e os dois são capazes de rir um com o outro, algo vai bem. Se você passa a tarde com ele no sofá, lendo ou transando, e o dia parece perfeito, eis um bom sinal. A felicidade não tem receita, mas a gente percebe quando está funcionando.
Para que as coisas funcionem no longo prazo é essencial haver lealdade. Eu cuido, eu protejo, eu respeito – e você faz o mesmo comigo. Se você não sente que seus sentimentos e a sua vida são importantes para ele ou para ela, desista. Como o ambiente lá fora é hostil, é essencial saber que no interior da relação existe cumplicidade e abrigo, com um grau elevado de honestidade: você diz o que pensa e isso vai ajudar, ainda que doa. É impossível prometer que coisas ruins jamais irão acontecer, é falso garantir que os sentimentos permanecerão os mesmos para sempre, mas é essencial olhar nos olhos do outro e sentir a disposição de tentar, verdadeiramente, que seja assim. Aqui, agora, de todo o coração, tem de ser para sempre – ou então a gente nem começa.
Se tudo isso existir – e não é fácil – ainda fará falta um quarto elemento, essencial ao equilíbrio duradouro das relações: os planos. Se ele que ter cinco filhos e você não quer ser mãe, não vai rolar. Se ela quer levar uma vida de viagens e aventura e o seu sonho é ficar aqui mesmo, perto das famílias e dos amigos, não deu. Viver bem pressupõe afinidades essenciais de gosto, sentimento e expectativas, sem falar de ideologia. Todas essas coisas se refletem nos planos. Eu penso no amor como um voo de longa distância. O avião precisa estar carregado com o tempo da relação, com o prazer que ela proporciona e com a lealdade em que ela está baseada – mas as pessoas ainda têm de concordar sobre o destino. Se eu quero ir à Tóquio e você à Nova York, precisamos embarcar em vôos diferentes.
Ivan Martins – Revista Época

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O aniversariante por fotos e canções

São Paulo fez 458 anos, e eu, na correria de sempre, típica dessa cidade, não tive sequer tempo para parabenizar essa terra que recebe declarações de amor e ódio todos os dias.
Os poetas da música ao longo dos últimos 50 anos fizeram retratos precisos da metrópole da agitação, que não é o Rio, mas também é o cenário da beleza e do caos...
Sampa
Caetano Veloso
Rua Xavier de Toledo, em 1957
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

Marcos Ferreira Silva

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Segredos


“A vida é realmente uma caixinha de surpresas” -, isso é tão clichê e tão verdadeiro. Isso acontece pelo fato de sermos lotados de coisas secretas, cofres enfiados peito abaixo. Ninguém nesse mundo tem uma vida que seja realmente um livro aberto, mesmo que seja, nem todos pararão para ler. Talvez quem venha até ti vai procurar um capítulo específico, qual o lê e vai embora.
Além disso, enquanto a pessoa lê você está escrevendo mais páginas. Compulsivo e aficionado ao deslumbre do que acontece. Uma espécie de Stephen King da rotina da vida real. Outra pessoa não sabe que montas uma nova página desse livro que tolamente chamamos de vida.
Vida... Algo que nasce, se desenvolve e apaga, como um candelabro em uma ventania... a vida... misteriosa como é, a luz proveniente dessa tocha de fogo não cobre tudo que queríamos cobrir. Se cobre de um lado, descobre de outro.
Nesse espaço, entre uma lapada de luz e outra, objetos ficam no breu do anonimato, coisas que apenas nós sabemos. Quando lembramos fingimos esquecer, se esquecemos um dia a memória traz de volta, como um sumo sacerdote, fiel e vivo como sempre fora.
É dessas lacunas que se fazem os grandes mistérios que cada um de nós carrega. Não adianta fingir que não possui isso. Todos nós somos dependentes desses segredos que adocicam ou amargam nossa vida. Contar-lhes pode ser loucura ou sacrifício, esconder é tortuoso e triste.
É aquilo que quer falar e não fala, que quase sai como um grito, mas termina mesmo é num sussurro, apático e inexpressivo. E carrega-o como uma leve dor de cabeça em uma quarta-feira à tarde, da qual não consegue se livrar, mas que também não lhe cabe reclamar. Leva em silêncio, enquanto a dor inflama, piora a olhos vistos, mas sem que você se pronuncie a respeito.
E a dor que já lateja te consome, e você, abominando aquilo tudo, toca em frente. Mudo, à base de analgésicos, escondendo de si mesmo aquilo que gostaria de esquecer, torcendo inutilmente que passe após uma revigorante noite de sono. E consideras aquilo normal e corre ao trabalho na manhã seguinte.
Marcos Ferreira Silva

domingo, 22 de janeiro de 2012

Rita Lee Jones e a saudade do Rock Brasuca

A Rita Lee vai deixar os palcos, e isso me assustou. Mais uma do bom rock brasileiro que sai de cena, talvez a melhor, a rainha.
Quando a vida ou o esquecimento não os levam, o corpo cansa. A rainha não reinará nos palcos, mas ainda dará o ar da graça e do talento em novos álbuns que prepara ainda para lançamento esse ano.
“Aposento-me de shows, da música nunca”, declarou Rita Lee no Twitter. O último CD lançado por Rita Lee foi "Balacobaco", em 2003.
Desde os tempos de Mutantes, fase que pouco é lembrada por ela, Rita é a garotinha do rock. Para Caetano Veloso, a dona “da deselegância discreta” das meninas de São Paulo.
Hoje, a soberana larga o palácio, mas não o reinado!
Agora eu pergunto: Será que ela deixou uma herdeira?

Marcos Ferreira Silva

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Criolo e a sua faceta de fazer música

Em 22 anos de carreira, o músico paulistano do Grajaú fez do rap um grito preso na garganta da periferia, mas ele foi além. Criolo ganha a cada dia o respeito do público e da crítica por causa da sua impressionante versatilidade musical.
Quando a MTV começou a vincular o clipe da música “Subirusdoistiozin”, o público que ainda não conhecia o trabalho do artista podia imaginar que era um bom cantor de rap, com um vocal diferenciado, e letras cheias de metáforas e gírias escancaradas com muita criatividade, como prova o nome da própria faixa em questão, escrita conforme se é pronunciado.
No bom e velho rap, o MC, como gosta de ser chamado, tem uma voz mais escrachada, não pelo lado negativo, mas incorporando a mensagem real implantada em suas letras repletas de rimas e críticas sociais.
De repente, você ouve um som do Criolo Doido, hoje somente Criolo, que mais se parece com a introdução de uma canção de Os Paralamas do Sucesso, isso é “Bogotá”, faixa que abre o seu segundo disco, “Nó na Orelha”, de 2011 – isso mesmo, o segundo disco em 22 anos de carreira. A música viaja entre um afrobeat e o ska, com uma letra carregada de críticas e metáforas.
As ousadias do disco são ouvidas faixa a faixa. O samba “Linha de Frente” e o dub “Samba Sambei” são outros exemplos de como esse rapper de coração pode alcançar outras linhas musicais sem perder a essência. Mas lá também está o rap que estávamos esperando ouvir desde o início em “Grajauex”, “Sucrilhos” e “Lion Man”, além do samba misto com rap e batidas afro “Mariô”.
O músico disse em entrevista à jornalista Marilia Gabriela, em seu programa De Frente com Gabi, que para ele a música brasileira é muito rica e merece ser explorada. Artista por natureza, Criolo defende sua música e defende sua poesia com sinceridade de quem pode passear pelo rap, soul, samba, rock e ser pop sem intenção pragmática de ser diferente.
O instrumental de todo o disco é rico em cordas, metais, piano, percussões e pick ups, perpetuando as diferenças do álbum em relação aos outros discos de rap, se assim podemos chamar o nó nos ouvidos que o trabalho de Criolo nos causa.
E o disco ainda surpreende muito mais. Criolo criou um retrato de São Paulo, “Não existe amor em SP”, digno de se juntar aos poemas paulistas de mestres como Caetano Velozo (Sampa) e Adoniran Barbosa (Trem das 11). Falando de um modo contrário aos demais relatos, Criolo não enxerga o amor tradicional existente em SP, mas mantém a beleza e a confusão que é a própria cidade, ouso dizer, chegando ao topo da sua poesia.
Outra dose musical de bom gosto do álbum é o quase bolero “Freguês da meia-noite”, no qual o cantor alcança um tom vocal que surpreende. Grave e às vezes sussurrado, como Julio Iglesias em sintonia com a lembrança da voz de Nelson Gonçalves, provando que a boemia aqui está de regresso.


Para fazer o Download do disco completo, clique aqui

Marcos Ferreira Silva