sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Segredos


“A vida é realmente uma caixinha de surpresas” -, isso é tão clichê e tão verdadeiro. Isso acontece pelo fato de sermos lotados de coisas secretas, cofres enfiados peito abaixo. Ninguém nesse mundo tem uma vida que seja realmente um livro aberto, mesmo que seja, nem todos pararão para ler. Talvez quem venha até ti vai procurar um capítulo específico, qual o lê e vai embora.
Além disso, enquanto a pessoa lê você está escrevendo mais páginas. Compulsivo e aficionado ao deslumbre do que acontece. Uma espécie de Stephen King da rotina da vida real. Outra pessoa não sabe que montas uma nova página desse livro que tolamente chamamos de vida.
Vida... Algo que nasce, se desenvolve e apaga, como um candelabro em uma ventania... a vida... misteriosa como é, a luz proveniente dessa tocha de fogo não cobre tudo que queríamos cobrir. Se cobre de um lado, descobre de outro.
Nesse espaço, entre uma lapada de luz e outra, objetos ficam no breu do anonimato, coisas que apenas nós sabemos. Quando lembramos fingimos esquecer, se esquecemos um dia a memória traz de volta, como um sumo sacerdote, fiel e vivo como sempre fora.
É dessas lacunas que se fazem os grandes mistérios que cada um de nós carrega. Não adianta fingir que não possui isso. Todos nós somos dependentes desses segredos que adocicam ou amargam nossa vida. Contar-lhes pode ser loucura ou sacrifício, esconder é tortuoso e triste.
É aquilo que quer falar e não fala, que quase sai como um grito, mas termina mesmo é num sussurro, apático e inexpressivo. E carrega-o como uma leve dor de cabeça em uma quarta-feira à tarde, da qual não consegue se livrar, mas que também não lhe cabe reclamar. Leva em silêncio, enquanto a dor inflama, piora a olhos vistos, mas sem que você se pronuncie a respeito.
E a dor que já lateja te consome, e você, abominando aquilo tudo, toca em frente. Mudo, à base de analgésicos, escondendo de si mesmo aquilo que gostaria de esquecer, torcendo inutilmente que passe após uma revigorante noite de sono. E consideras aquilo normal e corre ao trabalho na manhã seguinte.
Marcos Ferreira Silva

domingo, 22 de janeiro de 2012

Rita Lee Jones e a saudade do Rock Brasuca

A Rita Lee vai deixar os palcos, e isso me assustou. Mais uma do bom rock brasileiro que sai de cena, talvez a melhor, a rainha.
Quando a vida ou o esquecimento não os levam, o corpo cansa. A rainha não reinará nos palcos, mas ainda dará o ar da graça e do talento em novos álbuns que prepara ainda para lançamento esse ano.
“Aposento-me de shows, da música nunca”, declarou Rita Lee no Twitter. O último CD lançado por Rita Lee foi "Balacobaco", em 2003.
Desde os tempos de Mutantes, fase que pouco é lembrada por ela, Rita é a garotinha do rock. Para Caetano Veloso, a dona “da deselegância discreta” das meninas de São Paulo.
Hoje, a soberana larga o palácio, mas não o reinado!
Agora eu pergunto: Será que ela deixou uma herdeira?

Marcos Ferreira Silva

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Criolo e a sua faceta de fazer música

Em 22 anos de carreira, o músico paulistano do Grajaú fez do rap um grito preso na garganta da periferia, mas ele foi além. Criolo ganha a cada dia o respeito do público e da crítica por causa da sua impressionante versatilidade musical.
Quando a MTV começou a vincular o clipe da música “Subirusdoistiozin”, o público que ainda não conhecia o trabalho do artista podia imaginar que era um bom cantor de rap, com um vocal diferenciado, e letras cheias de metáforas e gírias escancaradas com muita criatividade, como prova o nome da própria faixa em questão, escrita conforme se é pronunciado.
No bom e velho rap, o MC, como gosta de ser chamado, tem uma voz mais escrachada, não pelo lado negativo, mas incorporando a mensagem real implantada em suas letras repletas de rimas e críticas sociais.
De repente, você ouve um som do Criolo Doido, hoje somente Criolo, que mais se parece com a introdução de uma canção de Os Paralamas do Sucesso, isso é “Bogotá”, faixa que abre o seu segundo disco, “Nó na Orelha”, de 2011 – isso mesmo, o segundo disco em 22 anos de carreira. A música viaja entre um afrobeat e o ska, com uma letra carregada de críticas e metáforas.
As ousadias do disco são ouvidas faixa a faixa. O samba “Linha de Frente” e o dub “Samba Sambei” são outros exemplos de como esse rapper de coração pode alcançar outras linhas musicais sem perder a essência. Mas lá também está o rap que estávamos esperando ouvir desde o início em “Grajauex”, “Sucrilhos” e “Lion Man”, além do samba misto com rap e batidas afro “Mariô”.
O músico disse em entrevista à jornalista Marilia Gabriela, em seu programa De Frente com Gabi, que para ele a música brasileira é muito rica e merece ser explorada. Artista por natureza, Criolo defende sua música e defende sua poesia com sinceridade de quem pode passear pelo rap, soul, samba, rock e ser pop sem intenção pragmática de ser diferente.
O instrumental de todo o disco é rico em cordas, metais, piano, percussões e pick ups, perpetuando as diferenças do álbum em relação aos outros discos de rap, se assim podemos chamar o nó nos ouvidos que o trabalho de Criolo nos causa.
E o disco ainda surpreende muito mais. Criolo criou um retrato de São Paulo, “Não existe amor em SP”, digno de se juntar aos poemas paulistas de mestres como Caetano Velozo (Sampa) e Adoniran Barbosa (Trem das 11). Falando de um modo contrário aos demais relatos, Criolo não enxerga o amor tradicional existente em SP, mas mantém a beleza e a confusão que é a própria cidade, ouso dizer, chegando ao topo da sua poesia.
Outra dose musical de bom gosto do álbum é o quase bolero “Freguês da meia-noite”, no qual o cantor alcança um tom vocal que surpreende. Grave e às vezes sussurrado, como Julio Iglesias em sintonia com a lembrança da voz de Nelson Gonçalves, provando que a boemia aqui está de regresso.


Para fazer o Download do disco completo, clique aqui

Marcos Ferreira Silva