sexta-feira, 24 de maio de 2013

E o ser humano se perdeu

Infelizmente sim. É isso mesmo, o ser humano está perdendo a essência do que é ser humano, se é que já não perdeu. Impressiona o fato de, em meio às fábulas do dom de viver, criando e recriando obras, motores, artes, estudos, a nossa espécie ainda não aprendeu o que é ser realmente gente.
O Google me disse, após uma veloz e eficaz busca, que “Humano é uma palavra com origem no latim humanus e designa o que é relativo ao Homem como espécie. O ser humano distingue-se dos outros animais por agir com racionalidade. Possui grande capacidade mental e habilidade para desenvolver utensílios e adquirir conhecimento”.
Capacidade mental... não é o que consigo perceber nas tantas vezes que presencio barbáries de todo o tipo. Hoje, ao ligar a TV, sou acometido por uma sensação de incompreensão. O noticiário falava de uma briga de vizinhos em um condomínio de luxo na grande São Paulo. O motivo: barulho.
O vizinho - ensandecido, empresário, sessentão, rico, cheio de bens e margarina Doriana na mesa - reclama, invade o apartamento do “baderneiro” - que também é pai de família, dono de carro bom, emprego em multinacional, quarentão, boa pinta - e dispara com seu Calibre 38.
A mulher do barulhento - que por sua vez é uma bem sucedida dentista, tem consultório de fazer inveja, bonita, dinheiro na conta, e que contava as horas para o seu próprio aniversário de 38 anos, mãe de uma criança pequena (guti guti da escolinha) - também é atingida e sucumbe defendendo a cria.
Inerte na psicose, o sessentão e empresário volta para o seu lar e encontra a sua senhora - ela que ainda tinha planos de uma vida que parecia ter muito a render de bom - e diz: “Vou resolver o problema”. Ele, na ‘maturidade’ de suas seis décadas de vida, se enfia no elevador estoura os cornos com o mesmo Calibre 38, impedindo de virar um ano de vida com filhos e netos.
A imprensa em êxtase corre para o local. Hoje é o dia. Crime branco. Gente rica morta. Manchete garantida, destaque na TV, capa de jornal e milhões de acessos na internet.
O jornal local chega à cena do crime primeiro. A repórter colhe o depoimento do tenente da polícia e descreve em seu bloquinho de papel - um brinde de uma empresa qualquer, em uma coletiva de imprensa qualquer: “A criança estava debruçada em cima da mãe. Foi uma cena chocante, uma tragédia que aconteceu no Tamboré”.
À base de pão e água, assistindo ao circo armado, as pessoas que vivem suas vidas acomodadas em trabalhos repugnantes e cheio de conspirações e invejas, comentam o fato. Mais um assunto para ocupar a roda de café na copa. Sem lágrimas no olho, discutem e esbravejam sobre o tema: “Cara louco”, “Sem noção”, “Trouxa, se matou depois”.
Alguém solta um risinho com a história. Fim de papo. Todos voltam às suas mesas. É sexta-feira. Depois das seis da tarde tem Happy Hour... 
Marcos Ferreira Silva

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Hoje é isso

O bom ser humano tem um defeito, um defeito grave e que pode render coisas horríveis, destruir sonhos, ideias. Esse defeito é detentor do poder de matar e morrer. Ele é capaz de acabar com tudo, de te por de lado e rente à parede em um choro comprido e sucumbido pela própria culpa. Esse defeito, original de fábrica, chama-se confiar no outro.
Maldito. Eu te chamo de maldito. Maldito o homem que confia em outro homem. Pobre idiota, sem malícias e que achava que podia confiar. Maldito homem que preza o diálogo e pensa que palavras e entendimentos trazem resultados.
Acha isso? Morreras afogado na bondade do teu peito. Sua dignidade cai por terra. Suas lágrimas, essas você pode derramar em silêncio, pois não ter vergonha delas é a vergonha mais humilhante que podes admitir ter.
O que? Você não concorda comigo? Tudo bem, te admirarão quando fala, mas vão te zombar e humilhar quando você se mostrar frágil. Aceite de uma vez por toda que o ser humano é um verme podre e aproveitador, que espera sua fraqueza para se montar em ti e destruir o pouco que tem.
E as exceções? Podem até existir, mas acredite que a maioria delas é como um oásis no deserto, que você jura enxergar e, em meio ao diluvio de honestidade, acredita que pode até tocar um dia. Que pode confiar.
Engana-se. Seu amigo não é seu amigo. Nunca será. Você nasce sozinho e morre sozinho. Uma triste solidão urbana. Envolta do sagrado mal que de ti não se separa.
Vai confiar no amigo, no médico, no patrão, no advogado, padre e pastor. Deles terá o peito apunhalado e sangrara até a crônica hemorragia te vencer.
É meu caro... maldito... Maldito és tu que confiou...
Marcos Ferreira Silva