quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Doente do quê?

Ilustração - Denis Freitas
Essa crônica é um oferecimento de eu mesmo para mim mesmo. Pois é. Às vezes tenho a total certeza de que não sou o sujeito mais normal da face da Terra.
Em época de fim de Carnaval, meu ânimo continua lá embaixo. Sou ruim da cabeça e doente do pé. Não gosto da festa do samba. Não odeio o samba, apenas não sou um dos tantos fãs. Isso para a maioria é crime. Não sou radical, apenas não gosto das comemorações.
Sou ciumento ao estilo anos vinte. Temendo perder o broto na multidão. Enciúmo dos amigos e dos papos despretensiosos no portão de casa. Quadrado para muitos, mas são apenas ciúmes.
Ciúmes! Boa! Ponto interessante para mudar todo o enredo deste humilde texto. Ciúme é algo que todos podem ter de você, mas você não pode ter de ninguém.
Sua garota tem ciúmes de você (garota? – que jargão mais quadrado!) com os seus amigos, com seus pais e com todos os membros de sua família, com as amigas dela, com os colegas e principalmente com as colegas de trabalho, com toda a rede do Facebook e acho com todos do planeta.
Claro, nunca admitido. Mas ouse eu, pobre macho Ômega (o Alfa não te pertence mais – que fique bem claro) ter ciúmes dela com o carinha que lhe presenteia com chocolates? Possessivo.
Daí, eu em pura neurose começo mesmo a ser possessivo. Ciúmes até da sombra sem maldade (péssimo trocadilho). Aí eu me pergunto: Quem és tu, triste autor desse texto? Ciumento, não gosta de Carnaval nem de calor, não curte comemorar o próprio aniversário, não entende bem o Twitter, odeia funk, gosta de ficar em casa, ama o inverno e deseja o poder de exterminar o BBB?
Respondo: um doente do mundo esperando doses de normalidade e sensatez... começando por mim...
Marcos Ferreira Silva

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Aqui, agora, de todo coração

Esse texto não é meu, mas peguei emprestado por ser um relato sincero aos sentimentos.
Como fazer a escolha mais delicada da sua vida?
Escolher é difícil. Pergunte a um psicólogo e ele vai explicar por que gente obrigada a optar entre uma coisa e outra – qualquer que sejam essas coisas – sente ansiedade. Isso acontece em lojas de sapato, em restaurantes, na porta do cinema e até no sexo. Uma amiga me contou outro dia como foi estar numa festa e ter dois homens sedutores dando em cima dela. “Tive de escolher um deles, mas com um aperto no coração”, ela me disse. No dia seguinte, o bonitão que ela escolheu caiu no vácuo e nunca mais deu notícias. Escolher, ela aprendeu, é abrir mão de alguma outra coisa - e as consequências podem ser irreversíveis.
Infelizmente para nós, nem todas as escolhas são tão simples quanto a do sexo na balada. Penso na escolha mais delicada que a gente faz na vida, aquela que envolve os parceiros de longo prazo. Em que momento concluímos que uma pessoa deixou de ser apenas item de prazer ou fonte de encantamento e se tornou a criatura com quem vamos dividir a vida? Pode ser casando, comprando apartamento e tendo filhos, ou, de forma menos ritualizada, pondo os sentimentos e necessidades dela no centro da nossa vida, mesmo vivendo em casas separadas. O compromisso é parecido, assim como os caminhos que levam a ele.
A primeira coisa que conta nas grandes escolhas – eu acho - é a permanência. Ninguém tem direito a reivindicar um posto dessa importância sem ter ralado um tanto. Não adianta a Fulana decidir, em 30 dias, que vai ser sua mulher para o resto da sua vida. Não funciona assim. O teste do tempo é fundamental. Se aquela mulher ou aquele sujeito continua lá depois de todas as discussões e inevitáveis desencontros, se ela ou ele resolveu ficar depois de todas as chances de ir embora, se os seus sentimentos em relação a ele ou ela continuam vivos, um bom motivo há de haver. 
É essencial, também, que a experiência de convívio seja boa. Amores tumultuados dão bons filmes e péssimas vidas. É essencial acordar no sábado e ter vontade de ficar mais tempo na cama, enrolado naquele ser ao seu lado. Se a conversa antes de dormir deixou de ser gostosa ou se qualquer programa parece mais interessante do que a companhia dela ou dele, para que insistir? O prazer que o outro proporciona é essencial. Prazer de transar, prazer de olhar, prazer de ouvir, prazer de simplesmente estar. Se você caminha pela rua com ela e os dois são capazes de rir um com o outro, algo vai bem. Se você passa a tarde com ele no sofá, lendo ou transando, e o dia parece perfeito, eis um bom sinal. A felicidade não tem receita, mas a gente percebe quando está funcionando.
Para que as coisas funcionem no longo prazo é essencial haver lealdade. Eu cuido, eu protejo, eu respeito – e você faz o mesmo comigo. Se você não sente que seus sentimentos e a sua vida são importantes para ele ou para ela, desista. Como o ambiente lá fora é hostil, é essencial saber que no interior da relação existe cumplicidade e abrigo, com um grau elevado de honestidade: você diz o que pensa e isso vai ajudar, ainda que doa. É impossível prometer que coisas ruins jamais irão acontecer, é falso garantir que os sentimentos permanecerão os mesmos para sempre, mas é essencial olhar nos olhos do outro e sentir a disposição de tentar, verdadeiramente, que seja assim. Aqui, agora, de todo o coração, tem de ser para sempre – ou então a gente nem começa.
Se tudo isso existir – e não é fácil – ainda fará falta um quarto elemento, essencial ao equilíbrio duradouro das relações: os planos. Se ele que ter cinco filhos e você não quer ser mãe, não vai rolar. Se ela quer levar uma vida de viagens e aventura e o seu sonho é ficar aqui mesmo, perto das famílias e dos amigos, não deu. Viver bem pressupõe afinidades essenciais de gosto, sentimento e expectativas, sem falar de ideologia. Todas essas coisas se refletem nos planos. Eu penso no amor como um voo de longa distância. O avião precisa estar carregado com o tempo da relação, com o prazer que ela proporciona e com a lealdade em que ela está baseada – mas as pessoas ainda têm de concordar sobre o destino. Se eu quero ir à Tóquio e você à Nova York, precisamos embarcar em vôos diferentes.
Ivan Martins – Revista Época

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O aniversariante por fotos e canções

São Paulo fez 458 anos, e eu, na correria de sempre, típica dessa cidade, não tive sequer tempo para parabenizar essa terra que recebe declarações de amor e ódio todos os dias.
Os poetas da música ao longo dos últimos 50 anos fizeram retratos precisos da metrópole da agitação, que não é o Rio, mas também é o cenário da beleza e do caos...
Sampa
Caetano Veloso
Rua Xavier de Toledo, em 1957
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

Marcos Ferreira Silva