sábado, 7 de agosto de 2010

O Soldado da Paz de Ermelino Matarazzo


O Brasil vive uma onda positiva de trabalhos sociais feitos por grandes artistas da música e da televisão. Alguns bons exemplos são os projetos Casa da Gente do cantor Netinho de Paula, o Lar dos Artistas, coordenado pela atriz Nicette Bruno e o Projeto Viva Cazuza, idealizado pela mãe do cantor, Lucinha Araújo. Esses bons exemplos são velhos conhecidos da mídia nacional, estão sempre presentes na televisão. São instituições que mostram a política do amor ao próximo. Ainda são poucos, mas fazem escolas.
Nos recantos de Ermelino Matarazzo, Zona Leste de São Paulo, como em várias partes do país, existe um exemplo de ajuda humanitária que não possui os holofotes da mídia, mas dá um show de cidadania.
Para podermos falar do projeto Samba no Asfalto, fui até Ermelino acompanhando de meu amigo Amarildo Vieira, jovem jornalista igual a mim e orgulhoso morador daquele distrito. Combinei com Amarildo ao meio dia. Era um início de tarde gelado a sombra e ardente debaixo do sol.
Fomos ao bar onde combinamos de encontrar o fundador do projeto, o músico Ricardo Reis. Não o conhecia pessoalmente, mas logo que pedimos uma cerveja me deparo com um pôster anunciando o DVD de Ricardo Reis, preso ao fundo do bar. Enquanto prestava atenção no cartaz, Amarildo cumprimentava os frequentadores do local. Um deles, observando minha atenção ao pôster, comentou com Amarildo – “Vocês vão entrevistar o homem?”. – Amarildo disse que sim e demonstrou sua apreensão ao esperar nosso entrevistado, mas o frequentador do bar logo nos acalmou “Fiquem tranquilos, o sujeito é ponta firme”.
Nos minutos que seguiram, o pessoal nos mostrou a fachada do prédio que abrigava o projeto.
Logo depois, um carro popular se aproximou de nós, mas, antes de estacionar, foi abordado por um rapaz sorridente. Ricardo conversou rapidamente e, finalmente, parou o carro, cumprimentou o pessoal que estava no bar e foi falar conosco.
Nos chamou para a entrevista na casa de um amigo e lá fomos. O dialogo ocorreu no quarto de um amigo de Ricardo que tinha uma vista ampla para a comunidade e um bom espaço para churrascos de fim de semana. O nosso entrevistado estava tranquilo e começou a falar, logo depois que viu alguns CDs de Chico Buarque e outros artistas do Samba e da MPB.
O mineiro Ricardo nos contou sobre como ingressou no samba, das tradicionais rodas e como parou em São Paulo graças à carreira de ator. “Fui estudar teatro e dança, me formei em artes cênicas. Minha família tem essa tendência pelo samba de raiz. A roda de samba era enorme e para você chegar no meio era muito complicado. Aos poucos você vai chegando. Foi assim que eu consegui cantar, pela primeira vez, um samba com Toninho Geraes, e daí comecei a fazer vários trabalhos até chegar em São Paulo”.
Utilizando-se do talento no teatro e pela música, Ricardo Reis movia-se por um trabalho social. Um projeto para a comunidade. Mudar a realidade dos jovens com o samba raiz era seu intuito. E isso começou a ser feito em julho de 2007.
As crianças saíam das ruas para fazer samba, conhecer uma nova realidade. Ricardo Reis falava da importância do samba de raiz e como o jovem, que não conhecia aquela música, se interessava pelo ritmo. “Qual seria a intenção do projeto? – fazer pelo menos duas vezes por semana um samba para a comunidade e nos finais de semana dar aulas de teatro, cavaco, violão, percussão, dança para as crianças e para a comunidade”.
Segundo o cantor Netinho de Paula, líder do Projeto Casa da Gente, localizado em Carapicuíba, Zona Oeste de São Paulo, durante uma entrevista a Redetv “A atração, então desconhecida para aqueles jovens, se torna algo que o faz ter vontade de conhecer melhor aquele mundo e imaginar um futuro com mais esperanças para ele, longe da criminalidade e mais perto da arte”. Essa ideia, normalmente compartilhada pelos projetos sociais também é sentida por Ricardo Reis: “O jovem da comunidade vem aos finais de semana tem aula, faz um samba e volta pra casa pensando no próximo”.
Manter um projeto não é tarefa das mais fáceis e requer o máximo de ajuda possível, o que muitas vezes não custa muito para os governos ou órgãos privados, mas é fundamental para levantar ideias assim. O Samba no Asfalto tem um pouco dessa ajuda. “Nós temos o apoio de uma ONG, o Centro Popular da Comunidade Nossa Senhora Aparecida. Essa organização tem o apoio da prefeitura”.
A música como porta de entrada para tirar jovens das ruas é um recurso muito usado por grupos sociais. O Samba no Asfalto sabe usá-lo muito bem, com a mesma vitalidade de seu fundador. O grupo com mais de cem jovens costuma fazer apresentações fora do próprio instituto, tocando com nomes como o Samba da Vela, onde eles podem sentir o prazer de tocar e vivenciar a música.
“A música transforma as pessoas, por essa razão é tão utilizada por grupos sociais” – diz a psicóloga da comunicação Vilma Yoko. “Ela aproxima o ser humano, pois ninguém faz música só, mas pode tocá-la para quem quiser e para si próprio e isso une as pessoas” – afirma a doutora.
Para Ricardo, que estava à vontade na comunidade que ajudava a dar uma nova cara, isso também era fundamental: “No momento que você tem um sonho e ele é quebrado, ele quebra também parte da tua vida”.
Depois da conversa, fomos a um pequeno restaurante e provamos uma feijoada em pleno sábado. Lá, já sem nenhum compromisso com a entrevista, Ricardo continuava a falar da importância da vida social: “A garotada pode ver que tem um outro lado, que pode viver da arte, ou não, mas independente de seguir na música, na dança ou no teatro, ele vai saber que está cheio de coisas boas para se fazer por aí”.
Ouça na Seção ‘Aliviando sua Garganta’ (ao lado) um PodCast extraído da entrevista concedida pelo músico Ricardo Reis para o Programa "Leitura do Samba", produzido pelos alunos de comunicação da Uninove.


Marcos Ferreira Silva

2 comentários:

  1. É isso ai, tem muita gente do mundo artístico que faz do trabalho uma forma de ajudar quem precisa. Conheço de perto o instituto Casa da Gente e tenho a prova de quantas crianças e adolescentes são atendidos lá, pq um dia eu tive a oportunidade de ser atendida...

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  2. Eu Luchiana coordenadora da Cia de Dança Perfil, o qual faz parte deste projeto, não tenho nem o que falar desse grante artista,pois conhece ha anos e sei o quanto batalha pela sua realização profissional como músico e ator e sei bem a sua preocupação pela inclusão social, seja na dança, teatro ou na musica.
    Querido Deus é contigo.

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