domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sonhos de uma sexta


Ainda não passava das sete da manhã e o calor já demonstrava seu poderio, porém, graças ao sol ainda parcialmente ausente, uma leve brisa fresca confortava as primeiras horas daquela sexta-feira.
A noite anterior tinha sido de ventos fortes, arrancando o caule de algumas árvores e assustando moradores perto de barrancos. Apenas sustos. O vento não era premonição de uma forte chuva. As negras nuvens de São Pedro não choraram por sobre os prédios da cidade. O vento apenas desarticulou o insuportável calor de 32,1 graus centígrados e fez a cidade triste e suada dormir em paz.
Agora, parado no trânsito, percebo algo interessante. Um carro passa e atrás, logo acima do nome do modelo do veículo, um adesivo. Um adesivo com um desenho. O desenho de uma família. Vovó, papai, mamãe e três crianças em escadinha. A menor era uma garota ao lado de dois rapazotes. Formato infantil e ‘familiar’ para quem olhasse. Ou não.
Pouco depois vejo um outro veículo com um adesivo similar posicionado no mesmo lugar que o do carro anterior. Este era um pouco diferente. Tinha apenas pai, mãe e uma criança. Sorrisos largos animadores.
Notei que havia um certo padrão no esquema dos desenhos ao ver o terceiro, mas apenas na ideia. Eram personificados. O que contemplava agora tinha o formato “South Park”, mas era de natureza extremamente ingênua.
Famílias. Muitos não sabem o que é isso, outros ignoram a que tem. Fazem gato e sapato e chama tudo isso de babaquice.
Esperava que não, mas talvez para alguns deles aquele adesivo era só um adesivo. Nem se lembravam que tinham o posto ali.
O trânsito engasgava na ponte. Pouco andava. Parei pra pensar: o que cada um em seus carros poderia estar pensando naquele instante. Alguns deviam sussurrar nomes em sua mente, pedindo em seu íntimo que estivesse bem longe dali, que já fosse seis da tarde. Alguns queriam largar tudo, chamar os ventos, expulsar o calor e se acalmar num inóspito copo de cerveja. Sonhavam com a embriaguês. Outros queriam amar. De corpo, alguns de alma, e bem pouco de coração. Alguns, igual a mim, só queriam paz... Queriam família.

Marcos Ferreira Silva

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