“A vida é realmente uma caixinha de surpresas” -, isso é tão clichê
e tão verdadeiro. Isso acontece pelo fato de sermos lotados de coisas secretas,
cofres enfiados peito abaixo. Ninguém nesse mundo tem uma vida que seja
realmente um livro aberto, mesmo que seja, nem todos pararão para ler. Talvez
quem venha até ti vai procurar um capítulo específico, qual o lê e vai embora.
Além disso, enquanto a pessoa lê você está escrevendo mais páginas.
Compulsivo e aficionado ao deslumbre do que acontece. Uma espécie de Stephen
King da rotina da vida real. Outra pessoa não sabe que montas uma nova página
desse livro que tolamente chamamos de vida.
Vida... Algo que nasce, se desenvolve e apaga, como um candelabro em
uma ventania... a vida... misteriosa como é, a luz proveniente dessa tocha de
fogo não cobre tudo que queríamos cobrir. Se cobre de um lado, descobre de
outro.
Nesse espaço, entre uma lapada de luz e outra, objetos ficam no breu
do anonimato, coisas que apenas nós sabemos. Quando lembramos fingimos
esquecer, se esquecemos um dia a memória traz de volta, como um sumo sacerdote,
fiel e vivo como sempre fora.
É dessas lacunas que se fazem os grandes mistérios que cada um de
nós carrega. Não adianta fingir que não possui isso. Todos nós somos dependentes
desses segredos que adocicam ou amargam nossa vida. Contar-lhes pode ser
loucura ou sacrifício, esconder é tortuoso e triste.
É aquilo que quer falar e não fala, que quase sai como um grito, mas
termina mesmo é num sussurro, apático e inexpressivo. E carrega-o como uma leve
dor de cabeça em uma quarta-feira à tarde, da qual não consegue se livrar, mas que
também não lhe cabe reclamar. Leva em silêncio, enquanto a dor inflama, piora a
olhos vistos, mas sem que você se pronuncie a respeito.
E a dor que já lateja te consome, e você, abominando aquilo tudo,
toca em frente. Mudo, à base de analgésicos, escondendo de si mesmo aquilo que
gostaria de esquecer, torcendo inutilmente que passe após uma revigorante noite
de sono. E consideras aquilo normal e corre ao trabalho na manhã seguinte.
Marcos Ferreira Silva
A vida e seus mistérios. Texto apaixonante como sempre e espero que seja esta evolução a cada vez mais... =)
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