sexta-feira, 24 de abril de 2015

A menina dos olhos inquietos


Para Sabrina Cruz

Apertei os olhos de dor. O suor impregnado nas roupas pouco importava quando Elis Regina entoava “Casa no Campo”. Ah, eu também queria compor muitos rocks rurais, ter poucas certezas e um filho de “cuca” legal.

Enquanto eu viajava, ela coçava o buço com a calma de uma senhora lendo o jornal pela manhã em pleno anos 40, mas é apenas uma menina sapeca capaz de ser mais mulher que quase todas que cruzarem seu caminho. Na verdade seus olhos, lindos olhos, corriam pelas páginas de um catálogo de perfumes. Experimentava cada fragrância escondida, sei lá como, pelas folhas de papel couchê.

O que me encantava de verdade neste momento era sua serenidade. A calma de um espírito que ama, que em minutos sabe que está segura em meio à tempestades e sacode docilmente a perna ao som de George Harrison – ela não é igual a você, ela não precisa ter um beatle preferido. É ela que sonha e que ao mesmo tempo não está nem aí. Quer viver! Não quer que ninguém lhe diga o que fazer, mas deseja uma direção.

O caminho é seu coração quem aponta. Não precisa de um livro ou manual para dizer. Tem fé e ritos não fazem seu estilo. Suas pálpebras se encontram e ela tem a total noção de que alguém está ouvindo, seja para pedir ou agradecer.

Seus cabelos, lisos ou encaracolados, são belos. A convicção disso ela já tem, mas finge modéstia. É linda e sabes disso. Conhece o futuro, mas tem medo mesmo é do presente. No dia seguinte, como a moça da música, vai acordar cedo para garantir aquilo que tanto perseverou. Sua vida não é conto de fadas, mas a menina, de olhos grandes e ávidos, sabe que sem sonho nada faz sentido.

Mas seus desejos e planos secretos são baseados na realidade que já garantiu. Serás feliz, imersa entre seus bonecos de pelúcia. Não importa quantos anos terá, será eternamente uma garota que precisa de carinho e cuidado.

É frágil como uma rosa, que com ventos fortes pode se despedaçar, mas é mais capaz que você de guerrear pelo que quer. Quando seu coração se entristece, seus olhos jamais recusam as lágrimas. Não teme o choro, nem o pranto agônico, pois sabe ser sincera consigo.

Não age com falsidade com os outros, muito menos com o que carrega em sentimentos e caráter. Mas o líquido salgado que escorre de seus olhos só são visíveis na intimidade, no escuro do quarto, nunca para plateias carniceiras.

Com a mesma intensidade, gargalha e sorri, ironiza e te atinge como uma flecha. Quando cai, ressurge como uma ave milenar por entre as chamas que não tocam sua pele branca e macia. Ela pode rir de você te amando infinitamente.

A menina de olhos inquietos conquista corações... e conquistou o meu...



Marcos Ferreira da Silva

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