quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um 22 de Setembro qualquer

Hoje o dia nasceu tímido. Sem maiores expectativas. Correndo rasteiro e sem graça. O sol de véspera de primavera plana com graça no ar. Quando cruzamos as ruas, podemos notar os rostos angustiados de uma quarta-feira com cara de segunda. Todos acostumados com a escravização moderna do homem. A rotina.
Os escritórios estão lotados de auxiliares e executivos submersos em cafés servidos em copinhos de plástico e xícaras de porcelana barata. As gravatas e os saltos sufocam as pessoas. Os carros atravessam a marginal a 80 quilômetros por hora. As crianças estão sentadas nas carteiras da escola entendendo física e química, mexendo em seus celulares, qual receberam precocemente no último aniversário. Desconhecem brincar de amarelinha.
Do outro lado, dentro de um sobrado, alguém limpa a casa ouvindo histórias na rádio AM. O locutor é seu único amigo desde que o amor foi embora. Perto dali, alguém exprime a vontade de estar sufocado em um terno, mas ao menos teria um emprego, um salário para sair da frente do televisor depois de mais uma noite de insônia.
Muitos quilômetros daquela vila, o garoto desce as dunas de areia e corre para o mar deserto, cortando uma leve ventania. A brisa corre longe e alivia o calor do rapaz no escritório que folga os sapatos debaixo da mesa. Enquanto o telefone toca incessantemente, a mesa ao lado está vazia e sua dona, despreocupada, contempla o céu sem nuvens daquele dia vinte e dois de setembro qualquer.
Marcos Ferreira Silva

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