sábado, 8 de janeiro de 2011

Aromas

Certas coisas nos remetem há anos atrás, nos faz ser nostálgico ao extremo. Hoje me aconteceu uma coisa assim.
Sabe aqueles raros momentos em que temos a essência da família reunida, para alguns, como eu, coisa rara. Sempre vai faltar um, ou muita gente especial. Aquela hora que se pode desfrutar daqueles que estão ali e que em outro tempo também esteve.
Em um final de semana de julho, com a temperatura acima da média, mas com uma noite levemente fria e um céu encoberto de pesadas nuvens - que a metereologia aposta que irão se dissipar até o amanhecer - estava meu irmão  e eu brigando como há dez, quinze, vinte anos atrás, mas agora ele era um pai de família e eu um ‘novo adulto’, com minhas responsabilidades e mazelas à parte.
Dessa vez, ele vinha me reclamar de um pote de creme para barbear vazio e enferrujado que eu insistia em manter, muito bem guardado, no armário do banheiro. Eu, com essa enorme fixação pelos bens materiais inúteis (desculpe, meu Deus) comecei inventar desculpas para mantê-lo lá. Nesse ‘joga fora’ – ‘não, não jogo’ em que nos encontrávamos, uma coisa me chamou a atenção. O cheiro do velho creme de barbear me pausou. Aquele fora o primeiro creme de barbear que usei na vida. Estava no meu primeiro emprego e ganhei um kit com creme e loções de uma médica (trabalhava num hospital).
Veja só, em primeiro lugar, não me lembrava a muito daquela pessoa, muito menos que eu já havia trabalhado num hospital. Mas o que mais me tocou foi lembrar das aventuras daquela época, dos amigos, das enrascadas, das tantas coisas engraçadas e das paixões, ou melhor, da paixão. O calendário pregara uma peça.
Esse inimigo mortal nos engana sempre. Dificilmente percebemos as coisas que aconteceram depois de muito tempo. As datas da folhinha morreram e com elas muitas coisas que nos eram imprescindíveis. Únicas. O tempo sempre faz isso.
E no disse me disse, qual decidíamos o que faríamos com o pobre creme de barbear, preferi esquecer o aroma que pairava com as lembranças e disse:
- Joga fora.
Optei esquecer aquela lembrança junto com o cheiro, e lembrar só dos que estavam ali. Infelizmente as lembranças nunca me trariam o que perdi de volta.
O cheiro foi embora, mas ainda lembro.
 
Marcos Ferreira Silva

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