quarta-feira, 10 de abril de 2013

Ficção

“A melhor ficção é a realidade”, acho que ouvi isso da boca da Maitê Proença, a eterna musa ninfa de Dona Beija. E dou toda razão a ela. Olhar à nossa volta e fazer um Raio-X de nós mesmos é a prova de que nenhum filme, peça, novela ou livro pode se equiparar aos fatos reunidos ao longo das nossas vidas.
Continuando as citações, Belchior escreveu versos que ficaram eternizados na voz de Elis Regina, um dos meus preferidos diz que “qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa”. Fato.
As pessoas criam seus enlaces afetivos, coisas que surgem no momento do seu nascimento... na verdade desde a sua concepção, ou até mesmo bem antes dela.
“Em uma noite, depois de um show do Led Zeppelin, vocês saíram e eu fui o resultado.” Essa frase está no filme "A Rocha”, de 1996. A cena, protagonizada por Sean Connery, o lendário 007 de outros tempos, se passa com sua filha, questionando a ausência do pai por conta da cadeia. Ela continua o diálogo lembrando o estopim para a crise de relação familiar: “Até que um dia seis policiais federais arrombaram a porta de casa e te arrastaram para a prisão”.
Algumas pessoas têm histórias parecidas com essa. Outras viveram dramas a altura das Helenas de Manoel Carlos. As doenças, as questões impostas pela vida, o erro, a tentativa do reparo ou da absolvição que parece jamais chegar.
Todas as vezes que circulo pelas estações de metrô de São Paulo me edivto com a quantidade absurda de pessoas que vem e vão, para cima e para baixo às 06h, 07h da manhã. Cada uma para o seu trabalho, estudo, consulta médica, reunião, visita a parentes e amigos.
Durante o decorrer do dia é fascinante observar o espetáculo da rotina. Os cafés e os papos fora de hora, a mãe preparando o almoço, os parques quase vazios, mas nunca desertos. As crianças e os desenhos ao longo do dia, a programação de TV à tarde.
No meio de tudo isso estão os sentimentos, cada uma dessas pessoas ao redor do mundo tem a sua própria história para contar. Não há ninguém dentro do alcance dos raios solares que não possa te relatar pelo menos um ponto que não seja no mínimo muito interessante.
Há aqueles que sofrem por amor, que viram a pessoa que alimenta seus sonhos partir para longe, outras vezes para o infinito. Há o relato da traição, da medida precipitada, o crime do adultério, a entrega dos corpos e da alma para quem não deveria.
As famílias contam suas perdas, as reformas de casa, os papos engraçados, os imprevistos nas viagens, as piadas que arrancam risos sem prazo de validade, as brigas.
A vida e o trabalho, as disputas de poder, a admiração, a inveja, os objetivos e principalmente o caminho a se seguir.
Todos os dias os noticiários mostram de forma fria uma minúscula fatia do que acontece por aí, mas a imensidão dos fatos é muito maior.
Tenho um carinho grande por biografias e documentários, neles as verdades e histórias mais incríveis são desvendados, mas eu pagaria uma nota para saber um pouco da vida da pessoa ao lado, não por fofoca, mas para poder mergulhar nessa finitude de vida que quase ninguém conhece.
Marcos Ferreira Silva

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