quinta-feira, 17 de junho de 2010

Apetrechos em verde e amarelo


Exatamente às três e meia da tarde da última terça, 15, o Largo São Bento no Centro de São Paulo parecia um deserto. A cidade inteira estava diante de um televisor de plasma 42 polegadas ou mesmo uma tv portátil de 6, acompanhando a Seleção Brasileira de Futebol regida pelo técnico Dunga entrar em campo. As ruas desertas eram o oposto do que se podia ver minutos antes. Vuvuzelas em alto e bom som, unidas aos gritos de promoção de camisetas e bandeiras, eram entoadas por vendedores ambulantes, como José Inácio, e criavam a trilha daquela tarde ‘canarinha’.
No alto de seus 46 anos, José Inácio acompanhava sua sexta Copa nas ruas do Centro da Cidade. Com um sorriso largo, Inácio comemorava as boas vendas que tinha de quatro em quatro anos. Desde 1990, José Inácio acoplava coisas da Copa aos produtos que vendia. “Eu vendo pilha e radinho durante o decorrer do ano, mas na Copa o foco é outro.”
A organizada barraca de José Inácio ainda tinha as tradicionais pilhas, mas vuvuzelas, bandeirinhas e camisetas eram o que dominavam as vendas. Em vinte minutos ao lado da pequena banca na Rua Florêncio de Abreu, ficou impossível contar quantas pessoas saíam dos escritórios e compravam algo para usarem durante os jogos.
“As vendas triplicam em dia de jogo.” – Dizia ele enquanto vendia mais uma camiseta. A origem dos produtos não é escondida por José Inácio. “É tudo do Paraguai, mas os engravatados adoram.”
Quando o questiono sobre a polícia, o camelô diz que tem que ficar esperto e correr bastante quando o ‘Rapa’ chega. “A barraca é legalizada para vender pilha, o resto eu deixo separado e quando eles chegam a gente entrega tudo para o menino esconder.”
O menino citado por José Inácio é Felipe, seu filho caçula de 11 anos. O menino sabe que quando a fiscalização aparece tem que ser rápido para esconder tudo. “É isso ou ficar sem” – completa o garoto que, mesmo com a pouca idade, já tem experiência e conhece boa parte as artimanhas do trabalho de seu pai.
O mesmo acontece com outro vendedor ao lado de Inácio. Luiz de 23 anos chegou a São Paulo há apenas 6 meses e está encantado com a dimensão das vendas nessa época de Copa. “Se fosse assim todos os dias eu ficava rico fácil”.
Luiz veio de Sergipe e lembra que lá a Copa do Mundo também movimenta bem o comércio, mas ressalta que as dimensões em São Paulo são gigantes. “Lá eu vendia 10 ou 12 camisetas num dia bom, aqui eu já vendi em um só dia mais de 50.”
Os produtos vendidos por José Inácio e Luiz são variados, além de bandeiras, camisetas e as populares vuvuzelas, eles também vendem faixas, pulseiras, replicas da Taça, brinquedos e até fotos dos jogadores. “Beckham nem foi pra Copa, mas a mulherada quer foto do Homem de qualquer jeito.”
A maioria dos itens são nas cores verde e amarelo para homenagear a Seleção Brasileira, mas alguns produtos ainda celebram outros países, principalmente as camisetas. Os grandes times são destaque nas ruas e no ranking de vendas. Itália, Alemanha, Edivha, Argentina, Portugal, Inglaterra e França são as mais vendidas.
Mas quando se trata de Brasil, os números são sem comparação. As camisetas do time nacional têm vários modelos; masculino, feminino, com emblemas do Hexa e em diversas cores.
Pergunto a José Inácio o que seus produtos atraem nas pessoas e ele me responde que os produtos são baratos, acima de tudo, e que o povo quer brincar, mas o vendedor também faz a venda: “Se eu não chamar, brincar com o pessoal não adianta nada, o pessoal está no clima e quer nos ver desse jeito também.”
Defendendo essa teoria, José Inácio, Luiz e todos os ambulantes do Centro de São Paulo gritam e cantam sem parar. “Isso ajuda a dar o clima do jogo. Eles animam mais que o Dunga” – Disse uma cliente que visitava a banca de Luiz.
As camisetas têm preços variados de R$ 10,00 a R$ 25,00 nas ruas do Centro. “Os preços populares atraem os chamados ‘Patriotas de Copa do Mundo’, porque muitas pessoas não estão dispostas a gastar em torno de R$ 150,00 em uma camiseta oficial do time, pois a maioria só usa as roupas nessa época”. – argumenta Luiz.
As vendas das lojas na região próxima a Rua 25 de Março crescem 10% em época de Copa, segundo a prefeitura. Os camelôs que não são contados nesse número acreditam faturar muito mais do que na Páscoa e no Natal. “Nos feriados de Natal, Ano novo e Páscoa o pessoal vai atrás de comprar coisas no Shopping, mas na Copa o povo quer bandeira e camiseta barata que só acha aqui. No Shopping, eles só vão para comprar a televisão.”
Luiz aproveita nossa conversa para reclamar da polícia que chega com violência. “Só faltam passar com o carro por cima da gente. Se não saímos da frente eles atropelam. Não respeitam nem criança comprando a Jubilani.”
O lucro é bom, segundo os vendedores ambulantes, mas o sacrifício é grande. José Inácio ressalta que na Copa, além de vender bem, eles trabalham mais felizes. “Poderia ser Copa todos os dias. O doutor e a dona de casa compram sem medo e vão comemorar.”
Luiz aproveitou a reportagem para mandar um recado para a seleção em tom de cobrança, mas confiante e sorrindo como todos os brasileiros. “Kaká, Robinho e Dunga, vamos jogar direito para valer o esforço do brasileiro e para eu poder vender muita vuvuzela até dia 11 de julho.”
Marcos Ferreira Silva

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